Crise institucional abala o futebol argentino
Uma decisão da Associação do Futebol Argentino (AFA) e da Liga Profissional de Clubes desencadeou uma das maiores polêmicas recentes no futebol do país, envolvendo dois dos maiores ídolos da Argentina: Ángel Di María e Juan Sebastián Verón. O conflito começou quando o Rosario Central foi reconhecido como campeão da Liga por ter sido o time com maior pontuação acumulada durante o ano.
O título polêmico e o protesto histórico
O Rosario Central, representado pelo campeão mundial Ángel Di María, técnico Ariel Holan, presidente Gonzalo Belloso e capitão Jorge Broun, recebeu o troféu em uma visita à sede da Liga Profissional em Puerto Madero. A equipe conquistou o título após terminar a temporada regular dos torneios Apertura e Clausura com 66 pontos, quatro a mais que o Boca Juniors.
Pelo regulamento anterior, o time com maior pontuação anual garantia apenas vaga na Copa Libertadores. A decisão de conceder o título ao Central, embora aprovada "por unanimidade" pelos dirigentes e impulsada pelo presidente da AFA, Claudio "Chiqui" Tapia, foi criticada por torcedores de outros times porque não havia sido anunciada no início da temporada.
O Estudiantes de La Plata emergiu como a maior voz contrária ao prêmio. Representado pelo vice-presidente Pascual Caiella, o clube negou que houvesse ocorrido uma votação sobre o reconhecimento do título de Campeão da Liga 2025.
A polêmica atingiu seu ápice quando a Liga ordenou que os jogadores do Estudiantes formassem um corredor para receber o time do Rosario Central no estádio Gigante de Arroyito. Em um dos protestos mais marcantes do futebol local, os jogadores do Estudiantes viraram de costas quando Di María e seus companheiros entravam em campo. O ato teria sido instigado pelo presidente do time e ídolo do futebol argentino, Juan Sebastián Verón.
Repercussão política e punições severas
O protesto gerou reações por toda a Argentina, incluindo a do presidente Javier Milei, que se opõe a Tapia por sua proximidade com o peronismo. Milei compartilhou uma foto vestindo a camisa do Estudiantes e cancelou uma viagem planejada a Washington para acompanhar o sorteio da Copa do Mundo, marcado para 5 de dezembro, onde estaria ao lado do presidente da AFA.
Di María, alvo de torcedores rivais em suas redes sociais, se manifestou afirmando que o time se sentia campeão e que a decisão não partiu deles.
O Tribunal Disciplinar da AFA iniciou um processo para investigar o comportamento do Estudiantes e impôs medidas disciplinares severas: Verón foi suspenso por seis meses de qualquer atividade relacionada ao futebol. Os jogadores envolvidos receberam suspensão de duas partidas, a ser cumprida no início do Torneio Apertura 2026, enquanto o capitão Santiago Núñez foi proibido de exercer a função por três meses. O clube também foi multado no equivalente a 4.000 ingressos (cerca de R$ 425 mil).
Versões conflitantes e futuro incerto
Em sua primeira declaração sobre o conflito, Verón negou que a distinção ao Rosario Central tenha sido discutida em reunião do Conselho de Diretores. "Na realidade, o que é considerado e não estava na pauta, é fazer um reconhecimento, o que é muito diferente de dar uma estrela a um time", afirmou o ex-meio-campista.
Verón enfatizou que suas críticas não eram contra o Rosario Central, mas sim contra a ideia de criar um título que não estava estipulado no início da temporada. Ele também negou aspirações políticas na AFA, afirmando que seu único objetivo é melhorar o futebol argentino.
A AFA informou que a decisão ainda não é definitiva e existe possibilidade de anistia para os jogadores antes do início do próximo torneio, mas isso não se aplicaria a Verón. Tapia, por sua vez, comentou a situação e a postura de Milei, destacando as dificuldades enfrentadas ao longo de seus anos à frente do futebol argentino e a possibilidade de mudanças futuras após seu mandato.
Esta crise expõe profundas divisões no futebol argentino, envolvendo desde questões regulamentares até conflitos políticos e institucionais que prometem ter desdobramentos nos próximos meses.