
Quem diria que uma simples caminhada de fé, feita geração após geração, ganharia status de tesouro cultural? Pois é exatamente isso que aconteceu com a Romaria de Padre Cícero em Boca da Mata, Alagoas. O título de Patrimônio Cultural Imaterial veio como um reconhecimento mais que merecido para uma tradição que já faz parte da alma do lugar.
Não é de hoje que os devotos percorrem aquelas estradas em devoção ao "Padim Ciço". Décadas se passaram, o mundo mudou, mas a fé? Essa continua firme e forte. "É como se a gente carregasse um pedacinho do Ceará aqui pra Alagoas", comenta Dona Maria, 72 anos, que não falta a uma romaria desde os 15.
Mais que religião: identidade cultural
O que começou como uma manifestação religiosa virou algo maior - um verdadeiro fenômeno social. Durante os dias da romaria, a cidade praticamente para. E não é exagero: o comércio fecha mais cedo, as escolas adaptam seus horários, e até quem não é tão religioso acaba participando de alguma forma.
"Aqui a gente não separa o sagrado do cotidiano", explica o secretário de cultura local. "A romaria é como um rio que banha toda a comunidade, levando fé, história e, agora, reconhecimento oficial."
Detalhes que fazem a diferença
- Trajeto histórico: Os 7 km percorridos pelos romeiros seguem caminhos que já eram usados pelos primeiros devotos
- Cantos tradicionais: As ladainhas entoadas durante a caminhada foram passadas oralmente por gerações
- Artesanato único: Os ex-votos e objetos religiosos produzidos localmente são verdadeiras obras de arte popular
E agora, com o título de patrimônio imaterial, a expectativa é que essa tradição ganhe ainda mais força. "Isso aqui não é só do passado, é do futuro também", arremata um jovem participante, mostrando que a fé do povo não conhece limites de idade.