A cantora Daniela Mercury, com quatro décadas de carreira consolidada, acaba de lançar seu mais recente trabalho musical: o álbum 'Cirandaia'. Em entrevista exclusiva à VEJA, a artista baiana revelou os detalhes por trás deste projeto especial que celebra seus 60 anos de vida e 40 anos de trajetória musical.
Um disco que celebra raízes e afetos
O novo álbum representa uma homenagem ao axé e ao Nordeste, territórios fundamentais na identidade artística de Daniela Mercury. 'Cirandaia' nasceu de forma quase intuitiva, segundo a cantora, a partir da música 'Bicho Amor', de Geraldo Azevedo, que a reconectou com suas origens nordestinas.
O projeto reúne parcerias significativas com nomes como Chico César, Lucas Santtana, Alcione, Vânia Abreu, Zélia Duncan e Dona Onete. Uma colaboração inédita e especial aconteceu com Davi Kopenawa Yanomami e Ehuana Yanomami no manifesto 'Quem Vai Segurar o Céu'.
"É um álbum mais acústico, clássico e afetivo, feito com calma, como uma roda de amigos", descreve Daniela sobre o trabalho que prioriza a autenticidade musical em contraposição às tendências tecnológicas contemporâneas.
Representatividade e posicionamento político
A colaboração com Lauana Prado no álbum ganha destaque especial por representar a força de artistas LGBTQIA+ no cenário musical brasileiro. Daniela expressa admiração pela coragem da colega em se posicionar no universo sertanejo.
"Este encontro une os 'sertões' do Brasil e representa a força de mulheres que são donas de seu trabalho", afirma a cantora, que há mais de 20 anos lança seus álbuns através de seu próprio selo independente.
Sobre seu ativismo político e social, Daniela é enfática: "É importante para dizer aos nossos legisladores qual é o seu limite". Ela revela dedicar mais de 40% do seu tempo a causas de direitos humanos e ao monitoramento de leis que impactam a vida da população.
Reflexão sobre inteligência artificial e convite à ação
O título 'Cirandaia' carrega uma reflexão proposital sobre a inteligência artificial. Daniela explica que o álbum funciona como um manifesto contra a produção musical automatizada.
"Eu defendo que o conhecimento é patrimônio da humanidade e não pode ser propriedade de poucas empresas", argumenta a artista, colocando a IA e a proteção climática como os assuntos mais urgentes da contemporaneidade.
Para os artistas que preferem não se posicionar politicamente, Daniela tem um convite: "Não estou aqui para julgar, mas para convidar e estimular. Se temos o poder da arte, precisamos usá-lo para fazer a diferença".
A mensagem final da cantora é um chamado à união: "Quanto mais gente boa junto, menos gente contra o que é melhor para o país. Eu vivo nessa ciranda dando a mão a todos".