O astro de Hollywood George Clooney fez duras críticas às redes de televisão americanas CBS e ABC por terem se curvado a processos judiciais movidos pelo ex-presidente Donald Trump. Em entrevista à revista Variety, o ator e diretor afirmou que uma postura mais firme das emissoras poderia ter alterado o cenário político atual do país.
"Vão se f*": a frase que faltou, segundo Clooney
Clooney foi direto ao ponto ao avaliar a reação das emissoras. “Se a CBS e a ABC tivessem contestado esses processos e dito: ‘Vão se f*’, não estaríamos na situação em que estamos hoje no país. Essa é simplesmente a verdade”, declarou. O ator, filho de um jornalista e conhecido por seu ativismo, relacionou a situação atual com o tema de seu filme Boa Noite e Boa Sorte, de 2005.
Na obra, Clooney dirigiu e atuou ao lado de David Strathairn, narrando a batalha do âncora Edward R. Murrow e da CBS News contra o senador reacionário Joseph McCarthy nos anos 1950. Vinte anos após o lançamento do filme, o astro vê um contraste preocupante. Enquanto Murrow enfrentou o poder, as redes atuais, em sua visão, recuaram.
Acordos com Trump e a guinada da CBS News
A indignação de Clooney tem motivos concretos e recentes. Ele citou dois episódios específicos que o irritaram profundamente. O primeiro foi a decisão da CBS News de resolver um processo que considerou frívolo com Trump, para que o ex-presidente aprovasse a venda de sua controladora, a Paramount, para a Skydance.
O segundo foi um acordo similar da ABC News com Trump em uma ação por difamação. Para Clooney, essas concessões representam uma falha fundamental. A situação piorou, em sua análise, com as mudanças implementadas por David Ellison, o novo dono da Paramount.
Ellison reformulou a cobertura da CBS News para torná-la mais favorável ao movimento MAGA (Make America Great Again), nomeando a comentarista conservadora Bari Weiss como editora-chefe. “Bari Weiss está desmantelando a CBS News neste exato momento. Estou preocupado com a forma como nos informamos e como vamos discernir a realidade sem uma imprensa atuante”, alertou Clooney.
De amigo a crítico: a mudança no relacionamento com Trump
Em um relato pessoal, George Clooney revelou que, antes da presidência, ele e Donald Trump mantinham uma relação cordial. “Eu o conhecia muito bem. Ele costumava me ligar bastante e até tentou me ajudar a conseguir uma consulta com um cirurgião de coluna uma vez. Eu o via em boates e restaurantes. Ele era um grande brincalhão. Bem, ele era. Mas tudo isso mudou”, lamentou o ator.
Hoje, Clooney vê o comportamento de Trump como antagônico aos ideais de liberdade de imprensa e debate público que Edward R. Murrow defendia. Diante do momento político complexo, o astro defende a resistência. “É um momento muito difícil. Pode te deprimir ou te deixar muito irritado. Mas você precisa encontrar a maneira mais positiva de superar isso. Você precisa manter a cabeça baixa e seguir em frente, porque desistir não é uma opção”, concluiu.
A declaração de Clooney reacende o debate sobre o papel da mídia, a liberdade de imprensa e a pressão política sobre as grandes redes de comunicação nos Estados Unidos, um tema que ele próprio ajudou a imortalizar no cinema e que agora encena novamente, desta vez no palco da Broadway, onde interpreta o lendário Edward R. Murrow.