Artista transforma fazenda no interior de SP em tributo poético à força feminina e cultura agrícola
Fazenda em Bauru vira museu poético sobre mulheres rurais

Numa esquina esquecida do tempo, entre pastos e lavouras no interior paulista, uma fazenda ganhou cores, formas e alma. Não é magia — é arte. E das boas. A artista (que prefere não estampar seu nome em letras garrafais) pegou um pedaço de terra em Bauru e fez dele um palco para histórias que a enxada não contava.

Dizem por aí que o campo é só suor e pragicida. Mas ela viu poesia onde outros viam apenas terra seca. "As mulheres que trabalham aqui são como raízes de mandioca", solta a artista, entre pinceladas. "Forte por baixo, doces por dentro." E essa metáfora não é só conversa fiada — tá tudo ali, nas telas e esculturas que enchem os antigos galpões.

Da enxada ao pincel

O lugar? Uma fazenda centenária que quase virou pó. A transformação começou com um detalhe: os vestígios de mãos femininas nas ferramentas enferrujadas. "Encontrei marcas de unhas num arado dos anos 40", conta. Foi o estalo. Dez meses depois, nasceu um museu a céu aberto onde:

  • Antigos carros de boi viram instalações interativas
  • Paredes de taipa ganham retratos em tons terrosos
  • Até o cheiro de café coado se mistura às obras

E o melhor? Tudo feito com técnicas que os avós dos avós reconheceriam — pigmentos naturais, fibras locais e uma boa dose de improviso. "Uso barro da própria terra como tinta", ri a artista, mostrando as mãos sujas como prova.

Mulheres que plantam arte

O projeto tem um pé na agricultura e outro no feminismo — sem discurso pronto. As obras mostram cenas do cotidiano rural, mas com um olhar que os livros de história ignoraram. Numa tela imensa, três gerações de mulheres colhem café enquanto uma delas — a mais jovem — segura um livro. "São memórias que não cabem nos álbuns de família", explica.

E não para por aí. Duas vezes por mês, a fazenda vira sala de aula para meninas da região. "Ensino elas a ver beleza onde sempre disseram que era só trabalho duro", diz. Algumas mães, no começo desconfiadas, agora ajudam a preparar os pigmentos com receitas antigas. (Quem diria que urucum e cinza virariam arte contemporânea, né?)

O lugar já recebeu até críticos de arte de São Paulo — de botas e chapéu de palha, por obrigação. "É rural, mas não é ingênuo", definiu um deles, meio sem graça por ter subestimado o projeto. A próxima etapa? Levar a exposição itinerante para outras cidades do interior, sempre com oficinas comunitárias no pacote.

Enquanto isso, na fazenda-transformada-em-arte, o café continua passando e as histórias — agora em cores vivas — finalmente sendo contadas. Quem quiser ver de perto é só seguir a estrada de terra (e deixar um pouco de preconceito no caminho).