Vila Industrial: De bairro segregado a joia arquitetônica em Campinas
Vila Industrial: de segregada a patrimônio em Campinas

Quem passa hoje pela Vila Industrial, em Campinas, mal imagina que aquelas ruas cheias de charme já foram sinônimo de exclusão. O bairro, que completa 251 anos junto com a cidade, viveu uma metamorfose e tanto — da rejeição ao reconhecimento.

Nos anos 1920, a região era praticamente um "quintal" da cidade. As casas, construídas para operários, tinham um ar de provisoriedade que acabou virando permanente. O lugar ficou marcado como área de "gente pobre", e esse estigma grudou feito chiclete por décadas.

O virar do jogo

Mas sabe como é? O tempo traz reviravoltas. O que era visto como defeito — aquela arquitetura simples e funcional — se revelou virtude. As construções da Vila Industrial são hoje consideradas exemplares da arquitetura vernacular paulista, aquela que surge das necessidades reais das pessoas, não dos desenhos de arquitetos famosos.

"É impressionante como o olhar muda", comenta o historiador Marcelo Bueno, que pesquisa o bairro há 15 anos. "O que antes era motivo de vergonha virou orgulho. As pessoas começaram a perceber que estavam morando num museu a céu aberto."

Detalhes que contam histórias

  • As fachadas sem reboco, que mostram os tijolos aparentes, hoje são admiradas
  • Os beirais largos, feitos para proteger do sol e da chuva, viraram marca registrada
  • As pequenas varandas, onde os operários descansavam após o turno, são agora pontos de convívio

O bairro resistiu à tentação da modernidade — e que sorte! Enquanto outras áreas da cidade se rendiam aos prédios altos, a Vila Industrial manteve sua escala humana. As ruas estreitas, que antes eram problema, hoje dão um clima acolhedor que atrai fotógrafos e turistas.

Não foi um processo fácil, claro. Teve resistência, desconfiança. Alguns moradores mais antigos ainda estranham quando elogiam suas casas. "A gente cresceu ouvindo que isso aqui era feio", diz Dona Maria, 78 anos, enquanto varre a calçada. "Agora dizem que é bonito? Levei um tempo pra acreditar."

Presente e futuro

Hoje, o bairro vive uma espécie de renascimento. Jovens profissionais estão descobrindo o charme das casinhas históricas — e pagando caro por elas, diga-se. O IPHAN já classificou várias construções como patrimônio cultural, o que ajuda a preservar o conjunto.

Mas nem tudo são flores. O processo de valorização trouxe também desafios: aumento de preços, pressão imobiliária, receio de gentrificação. "Temos que encontrar um equilíbrio", pondera o secretário municipal de Cultura. "Preservar sem congelar, valorizar sem excluir."

Uma coisa é certa: a Vila Industrial já provou que sabe se reinventar. De bairro esquecido a cartão-postal, sua história reflete a própria trajetória de Campinas — cheia de altos e baixos, mas sempre em movimento.