
Não é exagero dizer que a linha entre a normalidade e o caos está ficando perigosamente tênue em alguns cantos de Salvador. Na Federação e no Engenho Velho, dois bairros que pulsam com a vida baiana, o som que domina não é mais o do pagode ou do samba—é o estampido seco de tiros.
Imagina acordar com o barulho de rajadas? De ter que se jogar no chão porque o risco de uma bala perdida não é mais uma possibilidade remota, mas uma realidade cotidiana? Pois é. Essa é a sina de quem mora nessas localidades. A rotina virou uma sucessão de sustos.
Relatos de quem vive no olho do furacão
"A gente vive com o coração na mão", solta uma moradora, preferindo não se identificar—medo, né? É compreensível. Ela conta que os disparos começam de repente, a qualquer hora. De dia, de madrugada. Não avisam. Não pedem licença.
E o pior? A sensação de abandono. A impressão que fica é que o poder público simplesmente lavou as mãos. Não vemos viatura, não vemos autoridade, não vemos solução. Só o problema, dia após dia.
O preço invisível do conflito
Além do medo óbvio—ninguém quer ser atingido por um projétil—existe um desgaste mental brutal. Crianças tendo seu desenvolvimento impactado pelo trauma constante. Comércios fechando mais cedo, perdendo dinheiro. O lazer, restrito. A vida, encolhida.
É uma espécie de toque de recolher não oficial, imposto pelo crime. E a população, honesta e trabalhadora, é quem paga o pato. Inadmissível.
Até quando? Essa é a pergunta que ninguém sabe responder. Os moradores clamam por uma resposta das autoridades, por um plano de segurança que de fato funcione. Eles querem apenas o direito básico de ir e vir sem temer pela própria vida. Será que é pedir muito?