
Era para ser mais um daqueles dias comuns de diversão entre amigos, sabe? O futebol de rua, aquele ritual quase sagrado da juventude brasileira. Mas o que começou como um simples jogo na tarde de segunda-feira terminou em tragédia.
O cenário: uma área de lazer no Conjunto Palmeiras, em Horizonte, região metropolitana de Fortaleza. O horário: por volta das 16h30, quando o sol já começa a baixar mas o calor ainda aperta. Foi nesse contexto aparentemente tranquilo que a violência decidiu fazer sua aparição mais cruel.
Os Tiros que Calaram o Jogo
Testemunhas contam que tudo aconteceu de repente — aquela velocidade assustadora com que a normalidade vira caos. Enquanto corriam atrás da bola, os adolescentes ouviram os primeiros estampidos. Não deu tempo de entender, de reagir, de se proteger.
O adolescente — vamos chamá-lo de João, porque todo bairro tem um João — levou um tiro no tórax. A bola continuou rolando por um instante, até que alguém percebeu que aquilo não era brincadeira, não era foguete de São João chegando atrasado. Era a morte fazendo sua visita indesejada.
Os amigos tentaram de tudo — quem nunca viu essa cena em filme, mas na vida real é mil vezes pior. Levaram o garoto para o Hospital Municipal de Horizonte, mas alguns ferimentos são maiores que a esperança. O que me deixa pensando: quantos Joãos precisam cair antes que a sociedade acorde?
O Que Sobrou no Campo
No local do crime, a Polícia Civil encontrou aquelas evidências que viraram rotina nas notícias: cápsulas de pistola calibre 380. Números frios que não contam a história completa — não falam do medo nos olhos dos sobreviventes, do choro abafado, da promessa de jogo que ficou para a próxima semana e agora nunca vai acontecer.
O Instituto de Identificação e Perícia do Ceará (IIPC) fez seu trabalho meticuloso, mas algumas marcas no asfalto não saem com pó de grafite. Ficam as memórias, os "e se", os "porquês".
Um Nome, Muitas Histórias Interrompidas
A vítima — porque é assim que viram estatística, mas era um filho, um amigo, um craque de botinho — tinha apenas 17 anos. A idade dos planos grandiosos e das paqueras tímidas. A Polícia Civil ainda trabalha para identificar os responsáveis, mas você me pergunta: quantas investigações começam com promessas e terminam em esquecimento?
O caso agora está sob a responsabilidade da 3ª Delegacia Regional de Polícia Civil (DRPC), em Pacajus. Eles prometem apurar, investigar, encontrar respostas. Mas as famílias das vítimas sabem que algumas perguntas nunca terão resposta satisfatória.
Que sociedade é essa onde jogar bola vira atividade de risco? A pergunta ecoa pelos muros do Conjunto Palmeiras, pelas ruas de Horizonte, por todo esse Brasil que insiste em normalizar o inaceitável.
Enquanto isso, em algum lugar, uma bola de futebol rola sozinha — lembrança silenciosa de que a violência, quando resolve visitar, não olha idade, não respeita sonhos, não poupa ninguém.