
Não é fácil abrir a boca quando a injustiça bate à porta — ainda mais quando quem deveria proteger é quem mais machuca. Dois relatos, vindos de mulheres trans, sacodem o chão da 2ª Delegacia de Polícia do DF com acusações graves: agressão, humilhação e um tratamento que beira a crueldade institucional.
Uma delas, que prefere não se identificar com medo de retaliações, conta que foi chamada de "veado" e "traveco" por investigadores enquanto prestava depoimento. "Eles riam da minha cara, me empurravam… parecia um pesadelo", desabafa, ainda tremendo. A outra mulher, que também pediu anonimato, alega ter sido agarrada com força excessiva e ameaçada com mais violência caso ‘causasse’.
Do outro lado do balcão: a versão da polícia
O delegado plantonista, Élisson da Silva Meneses, não nega o ocorrido — mas dá outro nome à coisa. Diz que houve um "tumulto" durante a abordagem e que as mulheres teriam desacatado os agentes. "Tomamos as medidas legais necessárias dentro do contexto", afirmou, sem entrar em detalhes sobre as agressões ou xingamentos relatados.
Ah, o famoso "desacato". Quantas vezes essa palavra já não serviu de cortina de fumaça para abusos que viriam a ser comprovados depois?
Não é caso isolado — infelizmente
Quem acompanha a cena LGBTQIA+ no Brasil já sabe: histórias como essa são mais comuns do que deveriam. A transfobia estrutural não poupa nem mesmo quem veste farda — às vezes, piora.
Organizações de direitos humanos e coletivos independentes já manifestaram repúdio ao caso e pedem apuração imediata. "É inaceitável que espaços que deveriam garantir segurança reproduzam violência", diz nota publicada por um grupo local.
Enquanto isso, as duas mulheres seguem assustadas. Com marcas no corpo — e outras, mais profundas, na alma.