Os casos de violência psicológica contra mulheres na internet explodiram no estado do Rio de Janeiro na última década, conforme dados alarmantes divulgados nesta quinta-feira (4) pelo Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). O Dossiê Mulher 2025, que marca 20 anos de análises sobre crimes contra elas, mostra um cenário preocupante de abusos que migraram e se intensificaram no ambiente virtual.
O crescimento assustador da violência online
Os números são chocantes. Em 2014, foram registradas 55 vítimas de perseguição e assédio virtual. Dez anos depois, em 2024, esse número saltou para 2.834 vítimas. Isso representa um aumento superior a 5.000% em uma década. Para os especialistas do ISP-RJ, esse aumento reflete não apenas a expansão do problema, mas também um avanço na conscientização sobre a importância de denunciar crimes digitais.
No ano passado, mais de 154 mil mulheres foram vítimas de violência no estado do Rio de Janeiro. Isso significa que, em média, 18 mulheres sofreram algum tipo de agressão a cada hora em 2024. A violência psicológica, definida como uma forma de abuso invisível que causa dano emocional e busca manipular a vítima, liderou os registros. Mais de um terço das vítimas (36,5%) sofreu esse tipo de violência, totalizando 56.206 casos no ano, ou 153 mulheres por dia.
O perfil da violência: dentro de casa e por conhecidos
O estudo traça um perfil claro e perturbador da violência contra a mulher fluminense. A maioria dos agressores são pessoas do círculo de convívio das vítimas. Mais da metade dos abusos (67,3%) foram cometidos por conhecidos, sendo a grande maioria companheiros ou ex-companheiros (49,6%).
Os lares, que deveriam ser locais de segurança, se transformaram em palco principal da violência. Quase metade das agressões (49,2%) ocorreu dentro de casa. Esse dado se torna ainda mais grave quando analisado junto com as estatísticas de feminicídio.
Feminicídio: a violência extrema dentro do lar
Em 2024, 107 mulheres foram vítimas de feminicídio no Rio de Janeiro. Quase dois terços desses assassinatos e tentativas ocorreram dentro da própria residência. O perfil das vítimas é marcante:
- 71 eram mães;
- 33 tinham filhos menores de idade;
- 13 foram mortas na presença dos próprios filhos.
Um dado que evidencia a falha na rede de proteção é que mais da metade dessas mulheres já havia sofrido outros tipos de violência, mas não havia registrado denúncia formal em uma delegacia. A maior parte das vítimas tinha entre 30 e 59 anos (59,8%) e era negra (71%).
Outras formas de violência e a importância da denúncia
A violência sexual também se destaca com números alarmantes. O estupro foi o crime com maior número de vítimas mulheres: 5.013 casos, seguido por importunação sexual (2.441) e assédio sexual (390).
Um ponto positivo destacado pelo relatório é o aumento na confiança das mulheres nos mecanismos estatais. Em relação aos crimes de estupro e estupro de vulnerável, 67,7% das vítimas fizeram a denúncia em até um mês, um aumento significativo nos últimos anos. Isso mostra uma maior procura por delegacias especializadas, como as Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), e pelo programa Patrulha Maria da Penha.
Diante dos dados, o governador Cláudio Castro (PL) se manifestou: “Os dados apresentados no Dossiê Mulher são um alerta e, ao mesmo tempo, um compromisso público: não recuaremos no enfrentamento à violência contra a mulher”. Ele reforçou que cada número representa uma vida que precisa ser protegida e anunciou a ampliação de políticas integradas e o fortalecimento da rede de atendimento.
Marcela Ortiz, diretora-presidente do ISP, enfatizou a função estratégica do relatório: “O Dossiê não é apenas um relatório, ele é uma ferramenta estratégica que orienta ações e salva vidas”. Completar 20 anos da publicação reafirma, segundo ela, o compromisso do governo com a proteção e acolhimento das mulheres fluminenses, baseando políticas públicas em evidências para prevenir violências, acolher vítimas e responsabilizar agressores.