Violência doméstica afeta rotina de 7 em cada 10 mulheres no Brasil
Violência doméstica altera rotina de 70% das mulheres

Impacto da violência doméstica na vida das mulheres brasileiras

Um estudo abrangente divulgado nesta quinta-feira (27) revela números alarmantes sobre a violência doméstica no Brasil. A 11ª edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher demonstra que sete em cada dez mulheres que sofrem agressões têm sua rotina completamente alterada após os episódios violentos.

O levantamento, realizado pelo DataSenado e pela Nexus em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) do Senado Federal, ouviu mais de 21 mil mulheres em todo o território nacional. Os resultados pintam um quadro preocupante do cenário brasileiro.

Consequências na vida cotidiana

De acordo com os dados coletados, 69% das mulheres que já vivenciaram violência doméstica tiveram seu dia a dia impactado pelas agressões. Isso representa aproximadamente 24 milhões de brasileiras que precisam modificar completamente sua rotina por conta da violência.

Os números detalhados mostram que:

  • 68% relataram impactos nas relações sociais
  • 46% tiveram o trabalho remunerado afetado
  • 42% sofreram consequências em seus estudos

Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência no Senado, enfatiza que "os dados revelam que a violência doméstica limita a autonomia das mulheres e pode impedir o acesso a direitos básicos, como estudo e trabalho, comprometendo o futuro das famílias e do país".

Autonomia econômica como fator crucial

A pesquisa evidencia uma relação direta entre situação econômica e vulnerabilidade à violência. Mulheres fora da força de trabalho têm probabilidade três vezes maior de sofrer violência doméstica (12%) comparado às brasileiras empregadas (4%).

Outro dado significativo mostra que 66% das mulheres que já sofreram agressões recebem até dois salários mínimos. Essas estatísticas destacam como a desigualdade econômica influencia diretamente o risco e a permanência das mulheres em ciclos de violência.

Vitória Régia da Silva, diretora executiva da Associação Gênero e Número, ressalta que "a autonomia econômica não é apenas uma condição desejável, mas uma política estratégica de enfrentamento" da violência doméstica.

Necessidade de políticas públicas integradas

Especialistas apontam que os resultados da pesquisa reforçam a urgência na implementação de políticas públicas que promovam a independência financeira e a qualificação profissional das mulheres.

Uma representante do Instituto Natura destacou a necessidade de "políticas integrais, que articulem segurança pública, saúde, assistência, educação e renda", oferecendo respostas reais que dialoguem com as diversas vulnerabilidades enfrentadas pelas mulheres.

A pesquisa, criada originalmente em 2005 para subsidiar a elaboração da Lei Maria da Penha, é realizada a cada dois anos. Esta última edição entrevistou 21.641 mulheres com 16 anos ou mais em todo o país.

Em um contexto global igualmente preocupante, novos dados da ONU revelam que a cada 10 minutos, uma mulher ou menina morre vítima de parceiro ou familiar. Em 2024, mais de 50 mil mulheres e meninas foram assassinadas por pessoas próximas, confirmando que o próprio lar continua sendo um dos ambientes mais perigosos para as mulheres.