A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório alarmante nesta quarta-feira (19) que revela uma realidade preocupante para as mulheres em todo o mundo. Segundo o documento, quase uma em cada três mulheres sofre violência de gênero ao longo da vida.
Números que chocam
Aproximadamente 840 milhões de mulheres em todo o mundo - o equivalente a um terço da população feminina - já sofreram violência praticada por seus companheiros ou violência sexual cometida por desconhecidos. Os dados compilados entre 2000 e 2023 em 168 países mostram que a situação melhorou muito pouco nas últimas duas décadas.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, foi enfático em seu comunicado: "A violência contra as mulheres é uma das injustiças mais antigas e generalizadas da humanidade, mas segue sendo uma das que menos se combate". Ele acrescentou que "nenhuma sociedade pode se considerar justa, segura ou saudável enquanto metade de sua população viver com medo".
Progresso dolorosamente lento
O relatório destaca que os avanços no combate à violência de gênero têm sido "dolorosamente lentos". A violência praticada por companheiros íntimos diminuiu apenas 0,2% ao ano nas últimas duas décadas, um ritmo considerado insuficiente para enfrentar o problema.
No último ano, os números continuam assustadores: 316 milhões de mulheres - representando 11% da população feminina acima de 15 anos - sofreram violência física ou sexual de seus parceiros. Entre as adolescentes de 15 a 19 anos, a situação é igualmente grave: 12,5 milhões (16%) foram vítimas de violência física e/ou sexual por parte de companheiros.
Crise subnotificada e subfinanciada
Pela primeira vez, o relatório da OMS inclui estimativas sobre violência sexual cometida por pessoas que não são companheiros das vítimas. Os dados revelam que 263 milhões de mulheres sofreram esse tipo de violência a partir dos 15 anos.
LynnMarie Sardinha, do departamento de saúde da OMS, alertou que o número real de casos pode ser maior do que o registrado: "É provável que uma maior conscientização dê lugar a um aumento das denúncias de violência". O problema está "muito sub-representado devido ao estigma e ao medo", conforme destacou o relatório.
O financiamento para programas de prevenção está em queda alarmante. Em 2022, apenas 0,2% da ajuda mundial ao desenvolvimento foi destinado a programas focados na prevenção da violência contra mulheres. A crise no setor de ajuda externa, agravada durante o governo de Donald Trump nos Estados Unidos, contribuiu para essa redução.
Impacto das mudanças climáticas e conflitos
O estudo revela que mulheres em países mais pobres e em áreas afetadas por conflitos e mudanças climáticas sofrem um impacto desproporcional. Avni Amin, chefe da unidade de direitos e igualdade da OMS, explicou que as mudanças climáticas "podem provocar inundações, fome extrema e outros tipos de desastres naturais".
Essas situações, assim como os conflitos armados, levam ao deslocamento populacional, insegurança econômica e interrupção de serviços públicos, fatores que aumentam o risco de violência contra as mulheres.
As regiões apresentam diferenças significativas nos índices de violência. Enquanto na Europa e América do Norte 5% das mulheres relatam ter sofrido violência, na América Latina e Caribe esse número sobe para 7%. A situação mais crítica é observada na Oceania (excluindo Austrália e Nova Zelândia).
Jeremy Farrar, vice-diretor-geral da OMS, resumiu a situação: "Os resultados evidenciam uma realidade trágica para as mulheres e as meninas de todo o mundo (...) em praticamente todas as comunidades". O relatório serve como um alerta urgente para que governos e sociedade civil intensifiquem os esforços no combate a esta violação dos direitos humanos.