Os primeiros dez meses de 2025 foram marcados por um cenário preocupante de violência de gênero na região do Sul de Minas Gerais. Dados oficiais revelam que 18.276 casos de violência contra mulheres foram registrados nos 164 municípios da região, configurando um aumento em relação aos anos anteriores.
Números em alta e cidades em destaque
O total de ocorrências entre janeiro e outubro de 2025 representa um crescimento de 1,5% se comparado ao mesmo período de 2024, e de 5,2% em relação a 2023. Entre as maiores cidades, Poços de Caldas se destaca com um dado alarmante: foram 1.319 casos de violência doméstica e familiar em apenas dez meses, superando os 1.288 registrados em todo o ano de 2024. Isso equivale a uma média de quatro casos por dia na cidade.
Em Varginha, o aumento percentual foi o mais expressivo da região, chegando a 17,5%. A cidade contabilizou 1.142 casos no período, sendo a violência psicológica o crime mais comum, seguido por ameaça, lesão corporal e agressão física. De acordo com os dados gerais, as agressões físicas, as ameaças e o descumprimento de medidas protetivas são os delitos mais registrados.
Quedas pontuais e a importância da denúncia
Em contrapartida, algumas cidades apresentaram redução nos números. Pouso Alegre registrou 1.123 casos, 25 a menos que em 2024, com lesão corporal e ameaça liderando as estatísticas. Passos também teve uma leve queda, com 900 casos registrados, 16 a menos que no ano anterior, sendo agressão física e lesão corporal os mais frequentes.
A delegada Mariana Floravante, da Delegacia da Mulher de Passos, reforça a necessidade de buscar ajuda imediata. "A principal orientação é que a mulher vítima de ameaça, injúria ou qualquer tipo de crime, que está em situação de risco, procure ajuda o mais rápido possível. Não espere a agressividade aumentar", orienta a autoridade policial.
Mais denúncias refletem maior acesso à rede de apoio
Para especialistas, o aumento nos registros pode estar diretamente ligado a uma melhoria na rede de acolhimento e a uma maior conscientização das mulheres. A socióloga e advogada Maria Cláudia da Arcadia avalia que as vítimas estão mais preparadas para denunciar. "Acredito que as mulheres estão mais preparadas para a denúncia e também há uma maior rede de apoio. As delegacias estão mais preparadas para receber. Então temos esse panorama do preparo da consciência da violência", afirma.
No entanto, Maria Cláudia alerta que os números, por si só, não resolvem o problema. "Houve uma crescente de denúncia e de casos. Agora, o que a gente precisa ver é o que vamos fazer com esses números. A reversão só vai acontecer com um grande projeto de prevenção multidisciplinar", pontua a socióloga, defendendo ações nas escolas, na saúde primária e em todos os setores da política pública, com a inclusão dos homens no combate à violência.
O contexto regional permanece grave, com casos de feminicídio e violência extrema frequentemente noticiados, reforçando a urgência de políticas efetivas de prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher no Sul de Minas.