
Parece que Santa Catarina está mesmo precisando de uma reviravolta nos seus números — e não são aqueles do turismo ou do PIB. O estado, conhecido por suas praias de cartão-postal, agora ostenta um título nada glamoroso: campeão nacional em ameaças contra mulheres. Sim, você leu certo.
Os dados mais recentes — aqueles que dão um nó no estômago — mostram que, enquanto o país discute igualdade de gênero, por aqui a realidade parece ter ficado presa num looping dos anos 1950. E olha que não é exagero: a cada hora, três mulheres sofrem ameaças só neste pedaço do Sul.
Agosto Lilás: o mês que escancara o que preferimos ignorar
Não é coincidência que, justo agora, o Agosto Lilás bata à porta. A campanha — que deveria ser desnecessária em 2024 — chega como um soco no estômago diante das estatísticas:
- SC registrou 1.200 casos de violência doméstica só no primeiro semestre
- Aumento de 27% nas ameaças via meios digitais (sim, o ódio migrou para as redes)
- Cada 15 minutos, uma nova ocorrência é registrada em delegacias
"É como se a Lei Maria da Penha tivesse virado papel decorativo", dispara uma assistente social que prefere não se identificar — ironicamente, por medo de represálias.
Por trás dos números: histórias que não entram nas estatísticas
Num boteco de Florianópolis, enquanto o chopp roda, uma conversa com dona Marta (nome fictício, claro) revela o que os gráficos não mostram: "Depois da quinta ameaça, eu parei de contar. O medo virou rotina, como escovar os dentes". Ela não está sozinha. Muitas sequer registram BO — afinal, pra que serviria?
Os especialistas — aqueles que ainda acreditam na mudança — apontam três culpados principais:
- Falta de efetividade nas medidas protetivas (que muitas vezes são só "um papel na bolsa")
- Cultura machista que resiste como erva daninha
- Subnotificação crônica — estima-se que para cada caso registrado, outros cinco ficam no silêncio
E enquanto isso, o Agosto Lilás tenta, pelo menos, manter o assunto na pauta. Mas será que campanhas pontuais resolvem? "Claro que não", responde na lata a delegada Ana Lúcia, "mas é o que temos pra hoje".