Milhares de pessoas ocuparam a Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo para protestar contra o aumento dos casos de feminicídio e outras formas de violência de gênero no Brasil. O ato, que integrou uma mobilização nacional, reuniu um público expressivo na principal via da capital paulista.
Contagem Precisada por Inteligência Artificial
De acordo com uma metodologia inovadora, o protesto em São Paulo reuniu 9,2 mil pessoas no momento de pico. A estimativa é do Monitor do Debate Político do Cebrap em parceria com a ONG More in Common, que utilizou inteligência artificial para analisar imagens aéreas capturadas por drones. A contagem possui uma margem de erro de 12%, o que indica um número real de participantes entre 8,1 mil e 10,3 mil.
O cálculo foi realizado a partir de 12 fotografias tiradas em três horários diferentes (14h30, 15h45 e 16h). Para a análise final, foram selecionadas 4 imagens do pico do ato, às 15h45, que cobriam toda a extensão da manifestação.
Como Funciona a Tecnologia P2PNet
O método utilizado, chamado Point to Point Network (P2PNet), foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Chequião, na China, e da empresa Tencent. O software foi treinado com um banco de dados de fotos de multidão da Universidade de Xangai e outro com imagens brasileiras da Universidade de São Paulo.
O processo é o seguinte: um drone captura imagens aéreas da multidão e o software, usando inteligência artificial, identifica e marca automaticamente as cabeças das pessoas. O sistema localiza cada indivíduo e conta quantos pontos aparecem na imagem, garantindo precisão mesmo em áreas densamente ocupadas.
Atualmente, o método tem uma precisão de 72,9% e uma acurácia de 69,5% na identificação de cada pessoa. Na prática, isso se traduz em um erro percentual absoluto médio de 12%.
Um Grito Nacional contra a Violência
O protesto em São Paulo foi parte de uma onda nacional de manifestações convocadas pelo movimento Levante Mulheres Vivas, que mobilizou atos em pelo menos 20 estados e no Distrito Federal.
Na capital paulista, a concentração começou ao meio-dia em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Manifestantes exibiram faixas e cartazes com frases como “Mulheres Vivas” e marcharam pela região central. A deputada federal Erika Hilton, presente no ato, declarou: “Todas merecem dignidade, todas merecem proteção. Tomamos a rua para dizer que nenhuma mulher será esquecida”.
O protesto também fez referência a dois casos recentes e chocantes ocorridos no próprio domingo na Grande São Paulo: o assassinato da farmacêutica Daniele Guedes Antunes, de 38 anos, em Santo André, e a morte de Milena de Silva Lima, de 27 anos, em Diadema – ambas vítimas de ex-companheiros.
Feminicídio: A Crise em Números
O protesto acontece em um contexto de alarmante crescimento da violência letal contra mulheres no Brasil. O país já registrou mais de mil casos de feminicídio apenas em 2025. Apenas no Distrito Federal, foram 26 mortes neste ano.
O caso mais recente que ganhou repercussão nacional ocorreu na sexta-feira, 5 de março, quando a cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos foi assassinada por um soldado dentro de um quartel.
Pela lei brasileira, o feminicídio é definido como o homicídio de uma mulher cometido por razões da condição de ser mulher. Isso inclui violência doméstica ou familiar, menosprezo ou discriminação de gênero. A pena para esse crime varia de 20 a 40 anos de reclusão.
A sequência de crimes brutais, incluindo os ocorridos em Brasília, São Paulo e Santa Catarina, foi o estopim para a convocação dos atos que tomaram as ruas do país neste fim de semana, demonstrando a urgência do tema e a revolta da sociedade.