A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu, na manhã da última sexta-feira (5), um homem de 54 anos suspeito de cometer uma série de crimes graves contra mulheres, incluindo abuso sexual, agressões físicas, extorsão patrimonial e perseguição. A prisão de José Neyton Gomes Melo ocorreu após investigações que revelaram um padrão de violência que se estende desde 2012, com pelo menos três vítimas já identificadas nas regiões de Brazlândia e Samambaia.
Relato das vítimas: dopagem, estupro e humilhação
Uma das mulheres que decidiu romper o silêncio descreveu ao g1 um relacionamento marcado por violência e traição. "Estou morrendo de vergonha, mas o que me move é a raiva e a segurança de outras mulheres", declarou a vítima, que teve a identidade preservada. Ela contou que se relacionou por anos com o suspeito, período em que sofreu episódios de violência sexual e um golpe financeiro.
"Cai no golpe do amor. Mas por trás disso, há outros crimes", afirmou. A mulher só descobriu após o término que era dopada com medicamentos e estuprada enquanto estava inconsciente. José Neyton ainda filmava as ações e, segundo a polícia, usava os vídeos para se exibir para amigos. "Ele me dopava e fazia outras coisas, me filmava. Fez comigo e com outra vítima", relatou.
Golpes financeiros e perseguição constante
Além da violência sexual, as vítimas foram alvo de crimes patrimoniais. Em um dos casos, a mulher descobriu um empréstimo de R$ 14 mil contratado em seu nome, com 53 parcelas, sem qualquer lembrança de ter solicitado o valor. Ao analisar o extrato, identificou uma transferência no mesmo montante para a conta do suspeito. Ela acredita que José Neyton invadiu seu celular enquanto estava dopada para realizar a transação.
Outra vítima teria perdido cerca de R$ 200 mil em um golpe envolvendo a compra fictícia de uma propriedade rural. A polícia aponta que o suspeito se aproximava de mulheres independentes financeiramente e em momentos de fragilidade emocional, buscando criar dependência para depois aplicar os golpes.
A perseguição era uma constante, mesmo após o fim dos relacionamentos. A vítima principal afirmou que se sentia vigiada e que o suspeito, usando carros diferentes, monitorava sua rotina. "Ele sabia a hora que meu ex-marido chegou e a hora que saiu", contou. Apesar de ter obtido uma medida protetiva, a perseguição continuou, incluindo a aproximação da chácara da mãe da vítima.
Modus operandi e prisão
As investigações da Polícia Civil detalham que José Neyton Gomes Melo agia de forma metódica. Após conquistar a confiança, ele dopava as vítimas com altas doses de medicamentos para abusar sexualmente delas enquanto estavam inconscientes. Em um dos casos, as lesões foram tão graves que exigiram intervenção cirúrgica.
O suspeito também tirava fotos e filmava as mulheres nuas, utilizando o material para autopromoção. Testemunhas relataram à polícia que ele usava armas de fogo para intimidar as vítimas. Ao tomar conhecimento das denúncias, José Neyton fugiu para Serra dos Aimorés, em Minas Gerais, mas foi preso ao retornar ao Distrito Federal.
Ele agora é investigado formalmente por violência física, sexual, psicológica e patrimonial. O caso, que veio à tona pela coragem de uma das vítimas em denunciar, expõe uma teia de crimes que durou mais de uma década e alerta para a importância de canais de denúncia e da eficácia das medidas protetivas.