A Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp) está desenvolvendo uma ferramenta tecnológica pioneira no país. O objetivo é prever a probabilidade de uma mulher, que já registrou um boletim de ocorrência por violência doméstica, sofrer uma nova agressão. O sistema, batizado de Algoritmo de Revitimização de Violência Doméstica, utiliza inteligência artificial baseada em machine learning para analisar um vasto volume de dados históricos.
Como funciona o algoritmo de proteção
A tecnologia em desenvolvimento vai processar e cruzar informações de mais de 15 milhões de registros de boletins de ocorrência feitos no estado ao longo da última década. Além disso, o sistema irá incorporar dados do Formulário Nacional de Avaliação de Risco (Fonar), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Esses formulários contêm informações críticas para a avaliação de risco, tais como:
- Uso de drogas ilícitas ou álcool pelo agressor.
- Existência de dependência financeira da vítima.
- Se o casal tem filhos em comum.
- Situação de emprego e dificuldades financeiras do agressor.
- Facilidade de acesso a arma de fogo.
- Se vítima e agressor ainda residem no mesmo imóvel.
O cruzamento dessas informações pelo algoritmo resultará em um índice de risco, que varia de 0 a 1. Esse número indicará o nível de probabilidade de uma nova agressão, servindo como um guia objetivo para as ações das forças de segurança.
Integração e objetivos da ferramenta
Os resultados gerados pela inteligência artificial serão consolidados em um dashboard único. Essa plataforma fornecerá um padrão consistente de informações sobre vítimas e agressores para a tomada de decisão das polícias paranaenses. A meta é permitir uma resposta mais rápida e qualificada no atendimento, minimizando as chances de revitimização.
Conforme explicou o secretário da Segurança Pública do Paraná, coronel Hudson Leôncio Teixeira, a tecnologia ampliará a capacidade de prever reincidências e qualificar o atendimento. "O principal é ampliar a nossa rede de proteção às mulheres em situações de violência", afirmou. A ferramenta integra as políticas públicas da gestão, que inclui o Programa Mulher Segura.
Parceria e próximos passos
O desenvolvimento do algoritmo está a cargo do Centro de Análise, Planejamento e Estatística (CAPE/SESP), em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O projeto passa por etapas rigorosas de coleta, tratamento, modelagem e validação de dados, com testes iniciais de desempenho já realizados.
O ciclo de desenvolvimento da tecnologia seguirá ao longo de 2026. Após a implementação, as informações e análises de risco serão compartilhadas com o Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), o Ministério Público do Paraná (MP-PR) e a Defensoria Pública. O intuito é embasar as decisões desses órgãos, criando uma rede integrada de proteção e justiça.
Essa iniciativa representa um avanço significativo no uso de dados e tecnologia para enfrentar um problema social grave, buscando oferecer uma proteção mais proativa e baseada em evidências para mulheres em situação de violência doméstica no estado.