A cidade de Pontal, no interior de São Paulo, foi palco de mais um trágico caso de feminicídio na tarde de quarta-feira, 3 de julho. Mayra Natanaeli de Oliveira Francisco, uma motorista de 29 anos, foi assassinada a facadas pelo ex-marido, André Marcos Pereira dos Santos, de 33 anos, dentro da própria casa.
Histórico de ameaças e medo constante
Separada há apenas dois meses, Mayra vinha vivendo um verdadeiro inferno. De acordo com sua amiga, a faxineira Ana Paula Gonçalves de Araújo, a vítima estava aterrorizada com as constantes ameaças do ex-companheiro. "Ela me ligava de madrugada, 3h da manhã, porque, às vezes, ela escutava, as meninas escutavam barulho dele pulando portão, pulando muro", relatou Ana Paula.
A situação era tão grave que Mayra, precavendo-se, já havia pedido ajuda aos vizinhos. Ela pedia que, se ouvissem seus gritos, interviessem imediatamente. A amiga também revelou que o medo era tanto que a vítima tirou os filhos de casa. As crianças, de 5 e 12 anos, passaram a morar com uma tia. "Ela já não estava dormindo direito, não estava conseguindo trabalhar direito por conta que ele ameaçava muito", completou.
O crime e a entrega do agressor
O assassinato ocorreu por volta das 13h, na Rua Ida Ventureli Mengual, no Jardim Bela Vista. Mayra estava sozinha em casa quando André invadiu a residência. Vizinhos ouviram os gritos de socorro da mulher. O pedreiro Daniel Alexandre, que mora na mesma rua, pulou o muro para tentar ajudar, mas já era tarde.
Daniel encontrou Mayra ensanguentada e ainda acionou o socorro, mas ela não resistiu aos ferimentos. Após o crime, André fugiu, mas logo em seguida ligou para o 190, o número da Polícia Militar, confessou o assassinato e informou que estava na área rural do município, onde foi localizado e preso.
Falha no sistema de proteção
Um dos pontos mais alarmantes do caso é que, apesar do histórico de violência, Mayra não possuía nenhuma medida protetiva de urgência contra o ex-marido. A tenente da PM, Isabela Zarda, confirmou que a vítima já havia registrado alguns boletins de ocorrência (BOs) contra André, mas a burocracia ou a falta de efetividade das medidas não foram suficientes para salvar sua vida.
O caso foi registrado como feminicídio na Delegacia de Pontal. André foi encaminhado para a Cadeia de Pradópolis e deve passar por audiência de custódia. Ele não tinha advogado constituído até o momento da prisão. As duas crianças órfãs agora estão sob os cuidados de familiares.
Esta tragédia escancara, mais uma vez, a urgência de mecanismos mais eficazes para proteger mulheres em situação de risco, especialmente após o fim de um relacionamento abusivo, período considerado de alto risco para feminicídios.