5 mil mulheres marcham no Recife contra feminicídio e violência doméstica
Mobilização nacional reúne milhares no Recife contra feminicídio

Neste domingo (7), as ruas do centro do Recife foram tomadas por um mar de vozes e cartazes em uma mobilização nacional histórica contra o feminicídio e a violência de gênero. O ato, intitulado "Mulheres Vivas", reuniu milhares de pessoas em um protesto carregado de dor, mas também de esperança e exigência por justiça.

Uma caminhada por vidas interrompidas

A concentração começou às 14h, em frente ao colégio Ginásio Pernambucano, na Rua da Aurora. Por volta das 16h, o grupo partiu em uma caminhada expressiva pelo bairro da Boa Vista, com destino ao Marco Zero, no Bairro do Recife. Segundo a organização do evento, aproximadamente cinco mil pessoas participaram da manifestação na capital pernambucana.

O protesto ganhou um significado ainda mais urgente ao ocorrer uma semana após um feminicídio chocante no bairro da Caxangá, onde uma mulher foi queimada viva junto com seus filhos pelo ex-companheiro. O autor do crime foi preso em flagrante, mas a tragédia escancarou a epidemia de violência que atinge as mulheres.

Vozes que ecoam: do silêncio à luta

Coletivos, movimentos sociais e organizações da sociedade civil ocuparam as ruas com um claro recado: é preciso responsabilizar os agressores e fortalecer urgentemente as políticas públicas de combate à violência. Entre os participantes, histórias pessoais davam rosto à estatística.

A policial militar aposentada Aglany Almeida compartilhou sua vivência de ter crescido em um lar marcado pela violência doméstica. "Quem se omite em um ato de violência, está do lado do agressor", afirmou. Ela destacou a importância do engajamento de todos: "Quando a gente não se posiciona, a gente está ignorando e omitindo. E isso [violência doméstica] acontece todos os dias".

Aglany também mencionou a dor diante de casos recentes, como o da morte de Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, e seus quatro filhos, na comunidade Icauã, no Recife. "É doloroso ver isso e é mais doloroso o silêncio dos órgãos, das classes que estão para nos representar", desabafou, lembrando que a violência física é o extremo, mas que comentários e piadas misóginas são a semente do problema.

A defensora pública do Cabo de Santo Agostinho, Eloisa Helena, alertou sobre a natureza oculta da maioria dos crimes. "Esses crimes normalmente acontecem às escondidas, no lar, onde deveria ser um local de proteção para as mulheres", disse. Ela reforçou a necessidade de as mulheres quebrem o medo e denunciem, buscando auxílio não só nas instituições públicas, mas também em redes de apoio como amigos, vizinhos e parentes.

Onde buscar ajuda e como denunciar no Recife e em Pernambuco

Para enfrentar a violência, é crucial conhecer os caminhos da denúncia e do acolhimento. No Recife, mulheres vítimas de violência podem receber atendimento especializado em locais como o Centro de Referência Clarice Lispector, na Rua Doutor Silva Ferreira, 122, em Santo Amaro, que funciona 24 horas, e no SER Clarice Lispector, na Avenida Recife, 700, nas Areias. A cidade também conta com Salas da Mulher em cinco unidades do Compaz.

Um importante canal de comunicação é o Plantão WhatsApp, disponível 24 horas pelo número (81) 99488-6138.

Em todo o estado de Pernambuco, as denúncias podem ser feitas:

  • Pelo telefone 180, da Central de Atendimento à Mulher (24h, incluindo finais de semana e feriados).
  • À Polícia Militar, pelo 190, em casos de crime em andamento.
  • Pelo Disque-Denúncia da Polícia Civil no Grande Recife: (81) 3421-9595.
  • No Ministério Público de Pernambuco (MPPE), de segunda a sexta, das 12h às 18h, pelo 0800.281.9455.
  • Na Ouvidoria da Mulher de Pernambuco, pelo 0800.281.8187.

A marcha do Recife se une a um coro nacional que diz "basta". É um chamado à ação, um lembrete de que o fim da violência contra a mulher não é uma pauta exclusivamente feminina, mas um imperativo de toda a sociedade que almeja viver com justiça e paz.