Uma tragédia que chocou o Recife teve seu capítulo mais doloroso na tarde desta segunda-feira, 1º. Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, e seus quatro filhos pequenos foram enterrados no Cemitério Público da Várzea, após morrerem vítimas de um incêndio criminoso ocorrido no último sábado, 29.
Luto e pedido por justiça marcam cerimônia
O enterro reuniu familiares e amigos em um momento de profunda comoção. Entre lágrimas, os presentes clamavam por justiça para as cinco vidas perdidas de uma só vez. A prima de Isabele, Silvana Gomes, desabafou sobre a dor da família e fez um apelo contundente.
"É uma família enlutada sofrendo, chorando, pedindo a Deus por Justiça", disse Silvana. "Que seja feita Justiça para que nenhuma mulher passe o que a gente está passando hoje. Porque está doendo, não está doendo pouco não, é muito".
Ela também expressou a esperança de que a morte de Isabele sirva como alerta. "Que a morte dela seja representativa para outras que estão sofrendo violência calada e não têm coragem de gritar e dizer o quanto dói ser vítima", completou, destacando a importância de denunciar a violência doméstica.
Suspeito preso e investigação em andamento
O companheiro de Isabele e pai das crianças, Aguinaldo José Alves, de 39 anos, é o principal suspeito do crime. Ele foi detido pela Polícia Militar no local do incêndio, onde, segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), estava sendo linchado por moradores. Preso em flagrante, ele foi levado a um hospital e, no domingo, 30, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça em audiência de custódia.
Atualmente, Aguinaldo está no Centro de Observação Criminológica e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife. A Polícia Civil investiga o caso como incêndio, homicídio e feminicídio.
As vítimas: uma família e uma aluna cheia de vida
Além de Isabele, a tragédia levou quatro crianças em tenra idade: Aline, de 7 anos; Adriel, de 4; Aguinaldo, de 3; e Ariel, de apenas 1 ano. A pequena Aline, que estudava no 1º ano da Escola Municipal Zumbi dos Palmares, no bairro da Várzea, foi lembrada com carinho por um funcionário da instituição.
Pedro Alexandre Batista, agente de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Especial, descreveu a menina como "uma criança muito especial", cheia de alegria e em pleno desenvolvimento. "Era uma criança que não cabia em si de tanta alegria", afirmou, emocionado com a dificuldade de explicar aos colegas que Aline não voltaria mais.
A escola publicou uma nota de pesar em suas redes sociais, afirmando que a perda da aluna "deixa um vazio imensurável" na comunidade escolar e reforçando o compromisso com o acolhimento neste momento de luto.
Incêndio destruiu grande parte da comunidade Icauã
O crime ocorreu na comunidade Icauã, uma ocupação do Movimento Urbano dos Trabalhadores Sem-Teto (Must) localizada no bairro da Caxangá, Zona Oeste do Recife. O incêndio, que começou na tarde de sábado, atingiu 20 das aproximadamente 30 casas do local, conforme informou a Defesa Civil do município.
O Corpo de Bombeiros foi acionado às 12h20 e enviou uma grande operação para conter as chamas, incluindo oito viaturas e 26 militares. O fogo, que consumiu barracos de madeira, foi controlado por volta das 16h30. A comunidade, que existe há cerca de dez anos nas imediações de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), ficou devastada.
A tragédia expõe, mais uma vez, a crueldade da violência doméstica e seu impacto devastador, ceifando vidas inocentes e deixando uma ferida aberta na cidade do Recife. O enterro das vítimas não é apenas um adeus, mas um grito coletivo por justiça e por um fim para esse ciclo de horror.