Incêndio no Recife mata 5 da mesma família; suspeito é preso
Incêndio em comunidade do Recife deixa 5 mortos da mesma família

Um incêndio de grandes proporções atingiu a comunidade Icauã, no bairro da Caxangá, Zona Oeste do Recife, no último sábado (29), resultando em uma tragédia familiar com cinco mortos e dezenas de desabrigados. As chamas consumiram 20 das 30 casas do local, deixando um rastro de destruição e comoção.

Uma Tragédia Anunciada: A Morte de uma Mãe e Seus Quatro Filhos

As vítimas fatais foram identificadas como Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, e seus quatro filhos, com idades entre 1 e 7 anos. O sepultamento da família aconteceu na segunda-feira (2), sob forte comoção de parentes e amigos. Testemunhas relataram que, momentos antes do fogo, Isabele e seu companheiro, Aguinaldo José Alves, pai das crianças, estavam em uma discussão.

De acordo com depoimentos colhidos, Aguinaldo teria agredido Isabele antes de atear fogo à própria casa, onde as crianças estavam. A vítima saiu para pedir ajuda, mas voltou para resgatar o filho mais novo. Nesse intervalo, as chamas, alimentadas por gasolina, se alastraram rapidamente, impedindo o resgate. Os corpos da mulher e das crianças foram encontrados em cômodos diferentes da residência.

Desespero e Perda Total no Meio das Chamas

Moradores da comunidade Icauã, que existe há oito anos como uma ocupação do Movimento Urbano dos Trabalhadores Sem-Teto (Must), reviveram o desespero ao ver o fogo se espalhar. Cristiana da Silva, uma das sobreviventes, contou que precisou fugir nua do barraco. "Eu fechei o barraco e fui tomar o meu banho, aí eu senti aquela quentura. (...) Eu saí correndo nua, o fogo já vinha ali perto. Foi minha mãe quem gritou", relatou ao g1. Ela perdeu todos os seus pertences, incluindo documentos importantes de um filho de 30 anos que necessita de cuidados especiais e para o qual ela buscava a aposentadoria.

Sua mãe, Severina Maria da Conceição, de 74 anos, também perdeu tudo. "Eu perdi o ventilador, o liquidificador, uma televisão de tubo... Agora isso aí foi uma tragédia muito triste. Eu nunca passei por outra tragédia dessa", declarou. Outra moradora, Leandra Dulce Machado da Silva, de 26 anos, viu seu pequeno comércio ser destruído e mostrou documentos carbonizados após o ocorrido.

Resposta da Justiça e Mobilização para Reconstruir

O suspeito, Aguinaldo José Alves, foi preso em flagrante e, durante audiência de custódia, teve a prisão convertida em preventiva. Ele foi encaminhado ao Centro de Observação Criminológica e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife.

Enquanto a Justiça segue seu curso, a comunidade se mobiliza para se reerguer. Carlos Vieira, coordenador do Must, destacou o impacto da tragédia. "Tem 20 famílias aí sem uma moradia, só o terreno agora... As crianças [vítimas] nasceram todas aqui dentro dessa ocupação", afirmou. O movimento está promovendo uma campanha para arrecadar materiais de construção, alimentos, produtos de higiene e outros donativos para as famílias afetadas.

Um detalhe trágico revelado por moradores é que, no próprio dia do incêndio, uma agente de saúde esteve na comunidade e informou que Isabele havia iniciado o pré-natal. A gravidez era desconhecida até então, possivelmente por receio de julgamentos, já que a família vivia em situação de vulnerabilidade com quatro filhos pequenos.

O secretário Marco Aurélio informou que os documentos perdidos no incêndio serão reemitidos, um alento burocrático em meio à dor da perda material e, sobretudo, humana.