Uma tragédia chocou a comunidade Icauã, na Zona Oeste do Recife, no último sábado (29). Um incêndio criminoso tirou a vida de uma mulher e seus quatro filhos, em um caso que expõe uma rotina marcada por violência doméstica e medo. O companheiro da vítima, identificado como Aguinaldo José Alves, conhecido como Guel, foi preso em flagrante suspeito de ter provocado as chamas.
Vizinha descreve agressor como "monstro" e relata pedidos de socorro
Elisângela Machado de Lima, vizinha da família, deu um relato angustiante à TV Globo. Ela contou que Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, vivia sob agressões constantes e tentava se separar do companheiro, mas não tinha para onde ir. "Ela falava o tempo todo: ‘Eu não aguento mais, mas é porque eu não tenho onde ficar", relatou Elisângela, reproduzindo o desespero da amiga.
A situação das crianças era ainda mais comovente. Segundo a vizinha, os filhos do casal frequentemente pediam ajuda. "Os filhos dele ficavam com a mãozinha para fora de casa pedindo socorro: ‘Socorro! Tia, tio, me ajuda!’", descreveu Elisângela. No entanto, esses apelos eram, na maioria das vezes, ignorados por quem passava. A vizinha explicou que muitos moradores preferem não se envolver por medo de represálias, resumindo a postura com a frase: "Tem que viver".
Elisângela pintou um retrato contraditório do suspeito. Para a comunidade, Guel era visto como um homem educado e prestativo. "Ele era bonzinho, sempre foi bonzinho [para os vizinhos]. Era um homem bom, simpático", afirmou. Porém, dentro de casa, o comportamento era completamente diferente. "Mas realmente sempre foi um monstro", completou, descrevendo um ciclo de violência onde a bebida antecedia as agressões. "Quem sofre é a mulher e os filhos", lamentou.
Vítima vivia isolada e dedicada exclusivamente à família
O controle exercido pelo companheiro sobre Isabele era absoluto. "Da porta dele, não deixava ela passar. Ela não conversava, saía direto para levar o filho dela para a escola, da escola voltava para casa", contou a vizinha. Isabele levava uma vida reclusa e totalmente voltada para o lar e os filhos. "Era uma mulher limpa, dobrava tudo, deixava tudo limpinho. No barraquinho dela, não se via confusão", lembrou Elisângela com carinho. Seu trajeto se resumia a: "Baixava a cabeça, passava para casa, voltava".
Incêndio devastador e prisão em flagrante
O Corpo de Bombeiros foi acionado para controlar o incêndio às 12h20 do sábado. A operação foi de grande porte, envolvendo oito viaturas e 26 militares. Entre os equipamentos enviados estavam três viaturas de combate a incêndio, uma de salvamento, uma de resgate e três de comando operacional. As chamas, que se espalharam rapidamente entre os barracos de madeira da ocupação Icauã, só foram controladas por volta das 16h30.
O suspeito, Aguinaldo José Alves, foi detido pela Polícia Militar no local. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), ele estava sendo linchado por moradores quando as forças de segurança chegaram. Preso em flagrante, ele foi levado a um hospital e, após audiência de custódia no domingo (30), teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.
A comunidade Icauã é uma ocupação do Movimento Urbano dos Trabalhadores Sem-Teto (Must) localizada no bairro da Caxangá, nas imediações de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A tragédia deixou um rastro de dor e revolta entre os vizinhos, que fixaram cartazes em protesto pela morte de Isabele e seus filhos, clamando por justiça.