Prisão Doméstica: Homem Vira Réu por Manter Enteada em Cativeiro por 22 Anos no Paraná
Homem vira réu por manter enteada em cativeiro por 22 anos

Imagine passar mais de vinte anos da sua vida sem ver o sol, sem conversar com outras pessoas, sem saber o que é liberdade. Pois é exatamente isso que aconteceu com uma mulher no norte do Paraná, num caso que parece saído de um pesadelo.

O Ministério Público do Estado finalmente conseguiu fazer a Justiça aceitar a denúncia contra um homem de 68 anos — e olha que a história é tão absurda que chega a ser difícil de acreditar.

Uma vida roubada

A vítima, hoje com 41 anos, foi mantida em cárcere privado desde os 19. Vinte e dois anos! É tempo suficiente para uma criança nascer, crescer e se formar na faculdade. Enquanto isso, ela vivia trancafiada como um animal.

O que mais revolta nesse caso todo é que o algoz era justamente quem deveria protegê-la: o próprio padrasto. A casa onde isso acontecia fica no Jardim São Paulo, em Londrina, e virou uma verdadeira prisão doméstica.

Como a farsa acabou

Tudo veio à tona em agosto do ano passado, quase por acaso. Uma equipe do CREAS — aqueles centros de referência que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade — foi até a residência para uma visita de rotina. E o que encontraram foi de cortar o coração.

A mulher estava visivelmente assustada, com marcas de agressão pelo corpo e um medo que dava pra ver nos olhos. Quando os profissionais tentaram conversar com ela, o padrasto não deixou — aí ficou claro que tinha coisa errada ali.

Os policiais que atenderam a ocorrência contaram que a situação era das piores que já viram. A vítima praticamente não sabia mais como se relacionar com o mundo exterior, tamanho era o isolamento.

A justiça em movimento

Agora, finalmente, as coisas começam a mudar. O juiz Rafael Pacheco Mandu, da 1ª Vara do Crime Organizado, aceitou a denúncia do MP na íntegra. O homem vai responder por cárcere privado e tortura — crimes gravíssimos que podem lhe custar anos de liberdade.

E sabe qual era a desculpa esfarrapada do acusado? Dizia que mantinha a enteada trancada porque ela tinha "problemas mentais". Conveniente, não? A polícia, é claro, não comprou essa história furada e as investigações mostraram que se tratava pura e simplesmente de um caso de violência doméstica extrema.

O que me deixa pensando é: como uma pessoa consegue fazer isso com outra? E por tanto tempo? São questões que talvez nunca tenham resposta.

E agora?

O processo segue seu curso, e o réu terá que se defender na Justiça. Enquanto isso, a vítima — essa sim uma verdadeira guerreira — tenta reconstruir uma vida que lhe foi roubada por mais de duas décadas.

Casos como esse mostram o quanto ainda precisamos evoluir como sociedade. E também mostram a importância de serviços como o CREAS, que muitas vezes são a única esperança para pessoas em situações de extremo sofrimento.

Que essa mulher encontre forças para recomeçar. E que a Justiça faça o seu papel.