
Era uma terça-feira comum em Santa Catarina — até deixar de ser. Dois dias. Apenas 48 horas separaram a conquista judicial da medida protetiva e o desfecho trágico que ninguém (ou será que alguém?) imaginou que aconteceria tão rápido. A vítima, uma mulher cuja identidade ainda não foi divulgada, teve sua vida interrompida brutalmente pelo próprio companheiro.
Detalhes? Sim, eles importam. Ela havia feito o que tantas especialistas recomendam: procurou a delegacia, registrou a ocorrência, seguiu o protocolo. O sistema funcionou — no papel. Na vida real, porém, a máquina burocrática girou devagar demais para acompanhar a velocidade da crueldade.
Um sistema que falhou ou uma sociedade que não enxerga?
O caso escancara o que muitos preferem ignorar: medidas protetivas não são escudos mágicos. São pedaços de papel — importantes, necessários, mas incapazes de deter balas, facadas ou mãos que apertam pescoços. A pergunta que fica é: quantas mais precisam morrer antes que a prevenção deixe de ser discurso e vire prática?
Segundo fontes próximas à investigação, o agressor já tinha histórico de violência. "Ele era daqueles que se arrependia depois, chorava, prometia mudar", contou uma vizinha que preferiu não se identificar. O clichê do ciclo da violência doméstica se repetiu mais uma vez — só que desta vez não houve reconciliação possível.
Os números que doem
Santa Catarina, apesar de bela, não escapa da estatística assustadora: a cada 7 horas, uma mulher sofre violência no estado. E não, não são "casos isolados" como alguns insistem em dizer. São padrões, são sintomas, são gritos silenciosos que ecoam em paredes de lares que deveriam ser refúgios.
O que fazer quando a lei chega tarde? Como explicar para os filhos dessa mulher que a justiça existiu, mas não foi suficiente? Perguntas difíceis, respostas mais difíceis ainda. Enquanto isso, o suspeito — porque agora é suspeito, não mais companheiro — segue foragido, deixando para trás não só um corpo sem vida, mas um sistema de proteção questionado.