Mais de 40 mulheres relatam casos semelhantes após denúncia
A enfermeira Maria Emília Barbosa se tornou voz para dezenas de mulheres após denunciar publicamente ter sido vítima de importunação sexual por um personal trainer em Salvador. Desde que compartilhou sua experiência, ela recebeu impressionantes mais de 40 relatos de outras mulheres que viveram situações similares com o mesmo profissional.
O trauma e a solidariedade entre vítimas
Em entrevista emocionada à TV Bahia, Maria Emília descreveu o impacto psicológico do episódio e a demora nas investigações. "Muito tempo a gente fica se questionando se realmente isso aconteceu, se é coisa da nossa cabeça, até realmente se concretizar um ato", confessou a enfermeira.
Ela revelou que só após o ocorrido percebeu a dimensão do problema. "Foram mais de 40 pessoas que entraram em contato comigo. Cada uma com sua subjetividade, mas com relatos muito parecidos com o meu. Relatos que mostram um mesmo modus operandi", afirmou.
Pressão familiar e lentidão investigativa
Maria Emília também relatou ter recebido mensagens da família do investigado após tornar o caso público. "A mãe dele entrou em contato comigo pedindo para que eu não falasse sobre ele no meio digital, porque a irmã trabalha com isso e citou até que o pai dele é do órgão judiciário", contou.
A irmã do personal trainer teria enviado mensagens ofensivas pelas redes sociais, chamando-a de mentirosa. "Esse foi o único contato que tive da outra parte até então", completou a vítima.
A denúncia foi registrada uma semana após o episódio, mas a enfermeira afirma que ainda não foi ouvida pela Polícia Civil. "Infelizmente ainda não teve esse ouvir. Outras vítimas já prestaram depoimento, e ainda assim essa lentidão", criticou.
Detalhes do caso e apelo às vítimas
Através de um vídeo nas redes sociais, Maria Emília detalhou que o primeiro contato com o profissional ocorreu em janeiro deste ano, após indicação de uma amiga. Na primeira consulta, em 31 de janeiro, o personal trainer exigiu que a avaliação física fosse feita de biquíni, alegando ser a única forma adequada.
Durante o atendimento, ela foi submetida a poses e procedimentos que a deixaram extremamente desconfortável, incluindo uma suposta liberação miofacial com aproximação excessiva das partes íntimas.
Na segunda avaliação, em 19 de março, Maria Emília recusou o uso de biquíni e optou por roupa de academia, mas disse que o personal insistiu. Segundo seu relato, o comportamento se tornou ainda mais invasivo, culminando em atos de clara conotação sexual.
"Eu dei um tapa na mão dele e pedi para parar. Foi quando ele pegou minha mão, colocou no órgão genital dele e disse: 'Veja só como eu fico com você'", desabafou.
Mobilização institucional
A Polícia Civil confirmou que apura uma denúncia de importunação sexual sofrida por uma mulher em uma sala comercial no bairro Caminho das Árvores. A 16ª Delegacia Territorial da Pituba conduz oitivas e outras diligências investigativas, incluindo análise de câmeras de segurança.
O Conselho Regional de Educação Física da 13ª Região - Bahia emitiu nota repudiando veementemente qualquer forma de violência, assédio moral ou sexual, especialmente quando praticados no exercício da profissão. O órgão informou que já instaurou os devidos procedimentos administrativos e que a Câmara de Julgamento Ético-Disciplinar analisará o caso com rigor técnico.
Maria Emília fez um apelo emocionado para que outras mulheres procurem as autoridades: "Todo mundo que já passou por isso e reconhece realmente quem é a pessoa, que não fique só no Instagram. Que tenha coragem e vá até a delegacia denunciar. A gente só vai ter voz se estiver juntas".