O Ceará enfrenta um triste recorde em 2025, com o maior número de feminicídios registrados desde que esse tipo de crime começou a ser contabilizado, em 2018. Até o dia 12 de dezembro, foram 44 mulheres assassinadas em contexto de violência doméstica ou por aversão ao gênero, conforme levantamento do g1 com base em dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Números alarmantes e perfil das vítimas
O balanço parcial de 2025 já supera todos os anos anteriores e representa um aumento de 7,3% em relação a 2024, quando 41 feminicídios foram contabilizados. Uma fonte ouvida pela reportagem alerta que o total no estado pode chegar a 50 casos até a primeira quinzena de dezembro. A maioria dos crimes ocorreu no primeiro semestre, com 24 mortes.
Conforme dados da Superintendência de Pesquisa e Estratégia (Supesp), a maioria das vítimas tinha entre 24 e 29 anos de idade. Os métodos mais comuns utilizados pelos agressores foram arma branca, seguida de arma de fogo e outros meios.
Casos recentes que chocaram o estado
Três histórias ilustram a brutalidade desses crimes ocorridos no fim do ano. A psicóloga e pedagoga Karine Gonçalves Luciano de Barros, de 39 anos, foi assassinada a tiros no dia 12 de dezembro, em frente a uma escola em Missão Velha, no Cariri. O ex-marido, Diego Almeida Castro, de 40 anos, foi preso preventivamente. O casal tinha um filho de 2 anos, e a vítima já havia sido ameaçada pelo ex-companheiro após o fim do relacionamento.
No dia 3 de dezembro, a policial militar Larissa Gomes da Silva, de 26 anos, foi morta em Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza. O autor foi o próprio companheiro, o soldado Joaquim Filho. Inicialmente, ele alegou uma troca de tiros durante uma discussão, mas investigações revelaram um histórico de agressões. Larissa deixou três filhos de um relacionamento anterior.
Já a vendedora Jhessilane Silva, de 24 anos, foi atacada com golpes de faca pelo ex-companheiro dentro da loja de cosméticos onde trabalhava, em Maranguape, no dia 29 de novembro. Ela não resistiu aos ferimentos e deixou duas filhas pequenas. Horas antes, havia postado uma mensagem sobre superação em um relacionamento.
Resposta do poder público e canais de denúncia
Em entrevista, o governador Elmano de Freitas relacionou os crimes a uma questão cultural e educacional. "Em regra, quem pratica o feminicídio ou é o ex-namorado, o ex-marido, o atual marido. Portanto, nós temos aqui uma questão educacional, de cultura, que precisa ser alterada", afirmou. Entre as ações anunciadas está a ampliação da rede de atendimento, com a construção de mais três Casas da Mulher Cearense no interior, totalizando dez unidades.
A Secretaria da Segurança informou que, entre janeiro e novembro, foram realizadas 68 prisões por feminicídio, um aumento de 41,7% frente ao mesmo período de 2024. No mesmo intervalo, houve 24.436 denúncias com base na Lei Maria da Penha, resultando em 3.580 capturas em flagrante.
O estado dispõe de mais de 60 equipamentos de proteção, incluindo a Casa da Mulher Brasileira em Fortaleza e delegacias especializadas. Para denunciar, a população pode usar os canais: Disque 190 (com atendimento especializado), Disque 180 (Central de Atendimento à Mulher) ou o Disque-Denúncia 181.