
O silêncio da noite em Mirassol foi quebrado por estampidos que ecoaram pela vizinhança. Eram cerca de 23h de sábado quando os sons secos e inconfundíveis de tiros cortaram o ar, transformando uma rua tranquila do interior paulista em palco de tragédia.
Uma vizinha, ainda assustada com o que testemunhou indiretamente, me contou que quase não acreditou no que ouviu. "Parecia filme de terror", disse ela, com a voz ainda trêmula. O celular dela, no entanto, não deixou dúvidas: captou cada disparo, criando um registro sinistro do momento em que uma vida era extinta.
O Áudio que Conta a História
O que essa gravação revela é assustadoramente simples e direto. Primeiro, um tiro. Depois, uma pausa que parece eterna. Em seguida, mais dois estampidos consecutivos. Três tiros no total - e o suficiente para que Maria Aparecida da Silva, de 57 anos, não sobrevivesse ao ataque.
O suspeito? Nada mais, nada menos que o próprio ex-marido, um guarda civil municipal aposentado de 60 anos. A ironia amarga: um homem que passou a vida inteira supostamente protegendo pessoas, agora acusado de tirar a vida de quem um dia jurou amar.
Da Aposentadoria à Cadeia
Imagina só: depois de anos servindo à sociedade, o homem deveria estar curtindo sua aposentadoria. Em vez disso, trocou a tranquilidade pelo banco dos réus. A Polícia Militar não perdeu tempo - chegou rápido ao local, na Rua São Bento, e encontrou a cena que nenhum policial quer ver.
Maria Aparecida já estava sem vida. E o ex-marido? Estava lá, mas não tentou fugir ou se esconder. Preso em flagrante, foi levado para a cadeia direitinho. Agora responde por feminicídio, essa palavra horrível que virou tão comum nos noticiários.
O Que Leva a Isso?
É a pergunta que todo mundo faz, né? O que acontece na cabeça de alguém para cometer uma barbaridade dessas? A delegada Tatiane Fiusa, que está cuidando do caso, acredita que o motivo foi... ciúmes. Sim, ciúmes - esse sentimento que deveria ser passageiro, mas que alguns transformam em justificativa para o pior.
O casal já estava separado, mas aparentemente isso não foi suficiente para acalmar o ânimo do ex-marido. Testemunhas disseram que ele chegou ao local já armado - preparado, portanto, para o pior.
Um Problema que Não é Só deles
O que mais me deixa pensativo é que casos assim não são raros. Todo dia, em algum lugar do Brasil, uma mulher morre nas mãos de quem deveria protegê-la. E o pior: muitas vezes há sinais antes da tragédia, avisos que, se ouvidos, poderiam evitar o pior.
O corpo de Maria Aparecida foi levado para o IML de São José do Rio Preto. Enquanto isso, o ex-marido aguarda na cadeia o que a Justiça decidirá sobre seu futuro. Um futuro que, convenhamos, ele mesmo estragou com suas próprias mãos.
O áudio da vizinha, esse testemunho involuntário, agora é prova. Prova de que o crime aconteceu, prova dos tiros, prova do horror. E nos lembra que, às vezes, a verdade mais crua chega até nós pelos ouvidos, não pelos olhos.