Adolescente resgatada de cárcere privado relata inferno e redenção
Adolescente resgatada de cárcere fala sobre redenção

Do inferno ao paraíso: a jornada de redenção de uma adolescente

Uma adolescente que viveu dois anos em cárcere privado imposto pela própria mãe e padrasto finalmente encontrou refúgio após uma fuga dramática na madrugada de sexta-feira (21), em Nova Veneza, Goiás. Em entrevista exclusiva à TV Anhanguera, a jovem descreveu sua experiência como uma transição "do inferno ao paraíso" após ser acolhida pelo pai biológico.

Torturas e privações durante o cativeiro

Segundo relatos da conselheira tutelar Aline Pinheiro, as agressões contra a adolescente eram constantes e serviam como forma de punição quando a jovem não cumpria tarefas conforme exigido. As torturas incluíam ficar a noite inteira de joelhos, passar até três dias sem se alimentar e ser privada de banho.

O Boletim de Ocorrência registra relatos ainda mais chocantes: a vítima teria sido agredida com fios de energia, pedaços de madeira e canos de PVC, além de sofrer queimaduras provocadas por cigarro. As mardas da violência ficaram registradas em imagens encontradas no celular da mãe, mostrando vergões e cicatrizes espalhados pelo corpo da menina.

A violência psicológica também era parte do tormento diário. Os agressores chegaram a mentir sobre a morte da avó paterna da adolescente e a convencê-la de que merecia a violência por ser "uma pessoa ruim".

A fuga dramática e o resgate

A oportunidade de escapar surgiu quando a adolescente encontrou uma escada próxima ao muro da casa. Após escalar o muro e passar por cima de uma serpentina, ela seguiu por uma estrada de terra até um ponto de ônibus, onde encontrou a dona de casa Albanita Aires por volta das 6h da manhã.

Albanita ficou chocada com o estado debilitado e a magreza extrema da menina, que imediatamente pediu para que ligassem para seu pai. Enquanto aguardava o resgate, a adolescente se alimentou três vezes seguidas, preocupando a dona de casa que temeu pela sua saúde devido à fome extrema.

Reencontro emocionante com o pai

O pai, que preferiu não ser identificado, revelou que tentava contato com a filha desde a separação da mãe da menina, há dois anos, mas sempre sem sucesso. Ele conseguia conversar com a ex-companheira, que apenas afirmava que a filha estava bem, mas nunca permitia que ele falasse diretamente com a adolescente.

"Meu Deus, eu fiquei horrorizado. Não deixava a menina estudar, não saía nem pra fora", declarou o pai sobre a descoberta das condições em que a filha vivia.

Para a adolescente, o reencontro representou um novo começo. Ela expressou gratidão por voltar a dormir em uma cama e por ter ganhado um celular após dois anos sem. "Já tinha aqui meu quarto, também fui bem acolhida, com minhas cobertinhas, dormi numa cama. Tive uma noite maravilhosa. E quando acordei já tive até a notícia de que eu ganhei um celular, depois de ficar dois anos sem", relatou emocionada.

Investigações em andamento

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso continua sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) sob sigilo. O trio suspeito do crime foi preso em flagrante e a adolescente passou por exames no Instituto Médico Legal, estando agora sob os cuidados do pai.

Apesar de toda a violência sofrida, a jovem encontrou forças para olhar para o futuro com esperança: "Pra mim o final foi maravilhoso. É como se eu tivesse saído, assim... Do inferno pro paraíso. Eu cheguei aqui e fui muito bem-acolhida pela família".