Os números da violência contra mulheres em Campinas seguem alarmantes, com 896 protocolos de atendimento registrados pelo serviço Ligue 180 apenas neste ano. Os dados divulgados nesta quarta-feira (26) revelam uma situação preocupante que demanda atenção imediata.
A realidade das denúncias em Campinas
Cada um dos 896 protocolos pode envolver múltiplas violações de direitos humanos, totalizando 4.129 violações registradas através da central de atendimento. O cenário mais comum das agressões continua sendo a própria casa da vítima, com 325 denúncias ocorrendo neste contexto.
A residência compartilhada pela mulher e o suspeito também aparece como local frequente das agressões, concentrando 277 casos no estado. Esses números ganham ainda mais relevância no momento em que o Ligue 180 completa 20 anos de funcionamento, consolidando-se como um serviço essencial para o enfrentamento da violência de gênero.
Crescimento preocupante em São Paulo
O estado de São Paulo registrou um aumento significativo nos casos de violência contra mulheres. Em 2024, a assistência totalizou 142.889 ligações, representando um crescimento de 29,13% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 110.651 ligações.
O número de denúncias formais no estado cresceu 19,98%, passando de 26.026 em 2023 para 31.227 em 2024. Desse total, 27.460 chegaram por telefone e 3.054 pelo WhatsApp. A distribuição das denúncias mostra que 60% foram feitas pelas próprias vítimas e 40% por terceiros.
Os dados revelam ainda a frequência das agressões: 14.672 atendimentos relatam ocorrências diárias, enquanto 5.452 são ocasionais. Em termos demográficos, as mulheres brancas foram as mais afetadas (14.593 casos), mas negras e pardas somam 13.383 registros. A faixa etária mais atingida está entre 35 e 44 anos, com 8.419 casos.
Cabine Lilás: novo canal de proteção
Campinas conta com mais uma ferramenta no combate à violência de gênero: a Cabine Lilás. Este serviço da Polícia Militar opera dentro do Centro de Operações da corporação (Copom) e conta com 25 policiais femininas especialmente treinadas por equipes da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).
Desde sua criação em 28 de maio de 2025 até esta segunda-feira (24), o serviço já registrou 1.376 ocorrências. Segundo dados da PM, isso equivale a uma média de 229,3 chamados por mês, 7,6 por dia ou aproximadamente um chamado a cada três horas.
O atendimento acontece exclusivamente via telefone 190, integrando-se ao sistema de emergência da Polícia Militar. A especialização das agentes garante um acolhimento mais adequado para mulheres em situação de vulnerabilidade.
Jaqueline Gachet, advogada especialista em direito da mulher, explica um fenômeno comum: "Muitas mulheres optam por pedir a separação em vez de formalizar denúncias criminais, para proteger a imagem do agressor perante os filhos". Esta postura, segundo a especialista, visa preservar a imagem paterna para as crianças, mesmo diante da violência sofrida.
Para situações de risco imediato, onde há ameaça de morte ou emergência, a orientação é ligar diretamente para o 190. Já para denúncias e orientações, o Ligue 180 funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, com atendimento gratuito e sigiloso realizado por mulheres treinadas para oferecer escuta acolhedora.