
O chão parece ter sumido sob os pés de Mariana Alves desde aquela terça-feira fatídica. Aos 47 anos, ela segura com força desesperada a última foto da filha — sorriso largo, olhos cheios de planos — como quem agarra um salva-vidas em mar revolto. 'Ela tinha 19 anos. Toda uma vida pela frente', diz, voz embargada, enquanto aponta para o buraco no peito que ninguém vê.
O caso, que está sendo investigado como homicídio doloso, aconteceu na Zona Oeste do Rio. A vítima — cujo nome preservamos a pedido da família — foi encontrada com sinais de violência em um terreno baldio. Segundo testemunhas, ouvidas sob condição de anonimato, gritos teriam sido ouvidos na madrugada anterior.
O que as autoridades dizem?
O delegado responsável pelo caso garantiu, em coletiva desconcertantemente breve, que 'todas as linhas de investigação estão sendo perseguidas'. Mas a família — e aqui faço coro com eles — parece pouco convencida. 'Promessas vazias não trazem minha filha de volta', dispara o pai, homem de poucas palavras mas com olhos que falam volumes.
Enquanto isso, vizinhos organizam vigílias improvisadas. Velas, fotos e bilhetes se acumulam no local do crime — cada objeto contando uma história não dita. 'Era a primeira a ajudar quando alguém precisava', lembra uma senhora, enxugando lágrimas com a ponta do lenço.
Números que doem
- O Rio registrou 1.447 homicídios dolosos nos primeiros 7 meses de 2025
- Vítimas entre 15 e 24 anos representam 38% do total
- Taxa de esclarecimento desses crimes não chega a 30%
Os dados — frios, impessoais — pouco importam para Mariana. 'Minha filha não é número', insiste, enquanto mostra no celular o último vídeo que recebeu: imagens tremulas de uma jovem dançando em uma festa familiar, completamente alheia ao destino cruel que a aguardava.
O caso, que já começa a ganhar repercussão nacional, reacende o debate sobre a eficácia das políticas de segurança. Especialistas consultados — com aquela cara de quem já viu essa história antes — são unânimes: sem investimento em inteligência e perícia, casos como esse continuarão se repetindo.
Enquanto a burocracia gira suas engrenagens lentas, uma mãe espera. Não por vingança — ela é clara sobre isso — mas por respostas. 'Se não for por justiça, que seja para evitar que outra família passe por isso', diz, ajustando a foto da filha na estante, entre tantos outros objetos que agora são relíquias.