
Os números chegam pra gente de forma dura, sem rodeios. O Rio Grande do Norte, aquele pedacinho do Brasil que tantos amam pelas belezas naturais, hoje carrega um título que dói na alma: é o estado do Nordeste com a maior proporção de lares enfrentando a fome de verdade.
Segundo a mais recente pesquisa do IBGE — aquela que a gente até torce para trazer boas notícias — a situação é crítica. Enquanto a média nordestina de insegurança alimentar grave fica em 8,6%, o RN dispara para 11,3%. Traduzindo: mais de um em cada dez domicílios potiguares simplesmente não tem o que colocar na mesa.
O retrato de um Brasil que muitos não veem
Pare um minuto pra pensar nisso. Famílias inteiras acordando sem saber se vão comer, pais tendo que explicar aos filhos que não tem alimento, gente revirando o orçamento já apertado pra ver se sobra algum trocado pra comida básica. É desolador.
E olha que a coisa vai além da fome extrema. Quando a gente soma todos os níveis de insegurança alimentar — desde aquela preocupação constante com a falta de comida até a fome propriamente dita — o RN aparece com 56,8% dos domicílios nessa situação. Quase seis em cada dez lares!
Nordeste: a região mais castigada
Não é segredo pra ninguém que o Nordeste sempre carregou o fardo mais pesado quando o assunto é desigualdade. Mas ver os números atualizados dá um nó no estômago. A região concentra as piores taxas do país, com Maranhão (13,6%), Alagoas (12,3%) e nosso RN (11,3%) liderando esse triste ranking.
Enquanto isso, o Sul do país — Santa Catarina, principalmente — mostra números que parecem de outro planeta: apenas 1,6% de insegurança alimentar grave. A diferença é tão absurda que chega a ser difícil de processar.
E as crianças nessa história toda?
Aqui é que a coisa fica ainda mais complicada de engolir. Os dados mostram que 12,4% dos lares potiguares com menores de 18 anos enfrentam a insegurança alimentar grave. São crianças e adolescentes que deveriam estar brincando, estudando, sonhando — mas que precisam lidar com a realidade cruel da fome no dia a dia.
É como se a gente estivesse hipotecando o futuro do estado. Como esperar que essas crianças tenham um desenvolvimento adequado, que consigam aprender na escola, que construam uma vida digna, se o básico — o alimento — falta?
Os especialistas que acompanham essa situação há anos — e eu tenho conversado com vários — são unânimes em apontar que a solução passa por uma combinação de fatores: políticas públicas eficientes, geração de emprego e renda, e programas sociais bem focalizados. Mas, entre um relatório e outro, a realidade nas comunidades continua dura.
Enquanto isso, a vida segue — com suas contradições e injustiças. O mesmo estado que exporta belezas naturais para o mundo todo precisa enfrentar essa chaga social que teima em persistir. E a pergunta que fica é: até quando?