Empresário Preso por Morte de Gari em BH Alega 'Acidente e Mal-Entendido' em Carta Escrita na Cadeia
Empresário preso por morte de gari alega acidente em carta

De dentro de uma cela no Presídio Nelson Hungria, em Contagem, um empresário de 27 anos tenta reescrever a tragédia que culminou com sua prisão. Em uma carta manuscrita – um daqueles documentos que carregam o peso do desespero e a tinta da defesa –, ele insiste que tudo não passou de um acidente seguido de um monumental mal-entendido.

O fato, que estampou jornais e revoltou uma cidade inteira, remonta ao dia 17 de agosto. Uma noite comum, até que deixou de ser. Por volta das 23h, na Avenida Professor Mário Werneck, no Buritis, região oeste de Belo Horizonte, um carro atingiu o gari José Pereira da Silva, um senhor de 63 anos que simplesmente fazia seu trabalho.

O que se seguiu foi caótico. O motorista não parou. Seguiu seu caminho, deixando para trás uma cena de horror. José não resistiu aos ferimentos. A vida de um trabalhador, apagada num instante.

A Versão do Acusado: Uma Sequência de Erros?

Na carta, o empresário não nega que estava ao volante. Sua defesa, no entanto, pinta um quadro completamente diferente do que a polícia apresentou. Ele alega que, ao perceber o impacto, entrou em pânico. Um momento de desorientação pura, que o fez seguir em frente instead de frear.

"Foi um acidente", repete. A justificativa soa como um eco comum nesses casos, mas ele acrescenta uma camada a mais: um "mal-entendido" sobre o que efetivamente aconteceu naquela avenita mal iluminada. Quase como se a realidade tivesse se distorcido no calor do momento.

O Departamento de Investigações de Crimes de Trânsito (Deict) de Minas Gerais, claro, teve outra leitura. Após análise do circuito de câmeras e do veículo – um Audi A3 preto –, concluíram que não houve tentativa de socorro. Nada. Zero. O que configura, na letra fria da lei, fugir sem prestar auxílio. E diante de um resultado fatal, a coisa fica feia. Muito feia.

As Peças do Quebra-Cabeça Policial

A investigação foi um trabalho de detetive. As câmeras de segurança foram cruciais, montando a rota de fuga do Audi. Não era um caminho aleatório; o motorista seguiu pela Mário Werneck, depois pegou a Pedro II, e sumiu. Até ser encontrado.

A perícia no carro foi outra faceta importante. Danos consistentes com um atropelamento. A prova material que não deixa muita margem para dúvidas sobre o envolvimento do veículo.

Tudo isso levou à prisão preventiva do jovem empresário, decretada pela Justiça. Ele responde na cadeia, aguardando os rumos do processo. Se condenado, a sentença pode ser pesada: de 2 a 5 anos de detenção, mais multa, pelo crime de homicídio culposo (sem intenção) no trânsito, agravado pela fuga. Um preço alto por um momento de pânico, se sua versão for verdadeira. Ou a justa punição por uma decisão covarde, se a acusação prevalecer.

Enquanto isso, na cadeia, ele escreve. Tenta costurar uma narrativa que lhe traga algum alívio. Fora dali, uma família chora a perda de José, um homem que estava ali, trabalhando, quando a vida simplesmente decidiu interromper seu serviço.