
Imagine só a cena: uma única mulher, trancafiada numa cela abarrotada, dividindo aquele espaço claustrofóbico com nada menos que 45 homens. Parece roteiro de filme de terror, mas era a realidade nua e crua numa delegacia de Itacoatiara, no interior do Amazonas. A situação era tão absurda que beirava o inacreditável.
Não deu outra. A Corregedoria Geral do Sistema de Segurança Pública do estado botou os pés na estrada e foi ver aquela bagunça com os próprios olhos. E não é que a denúncia era verdadeira? A cena que se viu foi de cortar o coração – e o estômago. A superlotação era tão gritante que dava vergonha alheia. A tal da mulher estava lá, jogada naquela situação precária, sem o mínimo de dignidade.
Uma decisão que não tinha mais como fugir
Diante de um cenário daqueles, a interdição da delegacia não foi uma escolha, mas uma obrigação. A ordem partiu do próprio secretário de Segurança Pública, Vinicius Almeida. Ele mesmo admitiu, sem rodeios, que a situação flagrada era "completamente inadmissível". A unidade foi fechada na lata, e todos os presos que estavam ali foram transferidos às pressas para outras unidades. A mulher, claro, foi levada para um local adequado, longe daquela selva de concreto.
O pano de fundo dessa história toda? Uma crise carcerária que não é de hoje no Amazonas. O sistema simplesmente não dá conta do recado. Falta espaço, falta condição, falta humanidade. E olha que o estado já foi notificado inúmeres vezes pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) justamente por causa dessa superlotação crônica. Mas, pelo visto, as coisas só andam quando viram um escândalo de proporções épicas.
E agora, José?
A pergunta que fica é: será que essa interdição vai ser suficiente? Ou é só um curativo num ferimento gigantesco? A situação expõe uma chaga que vai muito além de uma única delegacia. É o sistema inteiro que parece estar à beira de um colapso. Enquanto não houver um investimento pesado em novas vagas e em condições minimamente decentes, histórias como essa vão continuar se repetindo. E aí, meu amigo, não vai ter corregedoria que dê conta.
O caso agora está nas mãos da Corregedoria, que prometeu apurar toda a extensão das responsabilidades. Alguém vai ter que responder por aquele cenário desumano. Mas, entre nós, o problema de fundo – a superlotação endêmica – parece um bicho de sete cabeças muito mais difícil de ser abatido.