
O Tribunal de Justiça do Piauí acabou de escrever mais um capítulo sombrio — mas necessário — na história da segurança pública do estado. Num daqueles julgamentos que deixam a gente pensando sobre abuso de poder e onde foi parar a tal 'polícia para proteger e servir'.
O ex-policial militar Francisco das Chagas Silva Neto, que já teve a farda que deveria representar honra, agora vai trocá-la pelo uniforme da penitência. Trinta e dois anos de prisão. É isso mesmo que você leu. A sentença veio depois que a Justiça considerou que ele agiu com 'manifesto excesso' — um eufemismo jurídico para algo que beira a selvageria.
O dia em que a abordagem virou execução
Era 26 de julho de 2021, uma daquelas segundas-feiras comuns em Teresina. Weliton Pereira da Silva, 31 anos, estava numa moto quando foi abordado. O que deveria ser rotina transformou-se em pesadelo. Dezenove tiros. Vou repetir: dezenove projéteis atingiram o corpo de Weliton. A cena foi tão brutal que até os próprios peritos criminais ficaram estarrecidos com a quantidade de disparos.
O ex-PM tentou se defender alegando legítima defesa, mas a história não colou. As provas eram esmagadoras — e o comportamento do acusado depois do crime só piorou sua situação. Ele fugiu do local, abandonou a viatura e tentou sumir do mapa. Coisa de quem tem consciência pesada, não acha?
Os números que chocam
- 32 anos de prisão - pena aplicada pelo Tribunal de Justiça
- 19 tiros - número de projéteis que atingiram a vítima
- 4 anos - tempo desde o crime até a condenação definitiva
- 1 família que ainda espera por respostas sobre o que realmente motivou tamanha violência
O desembargador Ronaldo Menezes Vidal, que relatou o processo, foi categórico: não havia qualquer justificativa para tamanha brutalidade. Weliton estava desarmado — essa é a parte que mais dói. Como um homem sem armas representa ameaça que exige dezenove disparos?
O que fica depois da sentença?
A condenação já transitou em julgado, então não há mais recurso possível. O ex-PM vai cumprir pena inicialmente no Presídio Francisco de Assis Moraes Souza, em Teresina. Mas a sensação que fica é amarga. Por um lado, alívio pela Justiça funcionando. Por outro, aquela pontada de desconfiança: quantos casos assim ainda acontecem sem que ninguém fique sabendo?
O caso Weliton virou símbolo de algo maior — o debate sobre violência policial, treinamento adequado e, vamos combinar, sobre a humanidade básica que parece faltar em algumas situações. Trinta e dois anos é uma pena significativa, mas nenhum tempo de prisão devolve um filho, um pai, um ser humano.
Enquanto isso, em algum lugar do Piauí, uma família tenta seguir em frente. E nós ficamos aqui na torcida para que casos como este sirvam de alerta — para que fardas nunca mais sejam usadas como escudo para atrocidades.