Inocente após 15 anos: homem visita igreja ao deixar Papuda no caso Crime da 113 Sul
Inocente após 15 anos: homem deixa Papuda no caso 113 Sul

Quinze anos. Parece uma eternidade quando se está atrás das grades por um crime que nunca cometeu. Francisco Mairlon de Sousa, hoje com 42 anos, conhece bem essa sensação de tempo parado. Na última terça-feira, ele finalmente respirou o ar da liberdade - e seu primeiro destino diz muito sobre a jornada que enfrentou.

Assim que deixou o Complexo Penitenciário da Papuda, Francisco não correu para casa. Não foi primeiro para os braços da família. Sua prioridade? Uma igreja. Sim, um templo religioso foi seu refúgio inicial após tanto tempo pagando por algo que não fez.

O peso de uma condenação injusta

O caso remonta àquele fatídico 13 de agosto de 2010. Um assalto na Quadra 113 Sul, em Brasília, terminou em tragédia: o segurança particular Alex da Silva Santos, de apenas 26 anos, morto com um tiro nas costas. Francisco foi apontado como autor - e assim começou seu calvário judicial.

O que pouca gente sabe é que desde o início havia problemas sérios na acusação. A testemunha que o identificou? Mudou seu depoimento diversas vezes. As provas? Frágeis, pra não dizer quase inexistentes. Mas o sistema, ah, o sistema segue seu curso implacável, mesmo quando falha gritantemente.

A virada que demorou mais de uma década

Só em 2023 - treze anos depois! - o Ministério Público finalmente reconheceu o erro grotesco. E não foi por acaso: novas investigações mostraram que Francisco sequer estava no local do crime. Imagina só: perder quinze anos da sua vida porque alguém te confundiu com outra pessoa.

"É difícil descrever o que se sente quando a justiça reconhece que errou com você", reflete Francisco, com aquela voz cansada de quem lutou mais do que deveria. Sua absolvição definitiva só veio em setembro deste ano, mas a burocracia ainda o manteve preso por mais algumas semanas - mais um aperto no coração de quem já esperou demais.

O reencontro que valia por mil palavras

A cena na saída da Papuda foi daquelas que emocionam até os mais durões. A irmã, Maria Mairlon, não continha as lágrimas. "É uma felicidade imensa, mas também uma dor que não passa", confessou, segurando firme o irmão que recuperou depois de tanto tempo.

E o que se planeja depois de tanto tempo perdido? Francisco fala em "recuperar o tempo" - como se isso fosse possível. Quer reencontrar os amigos, reviver os lugares que ficaram apenas na memória, redescobrir uma cidade que mudou completamente enquanto ele estava ausente.

Seu caso levanta questões incômodas sobre nosso sistema de justiça. Quantos outros Franciscos estão presos hoje pagando por crimes alheios? Quantas famílias esperam por um milagre jurídico que pode nunca chegar? A história dele serve de alerta - e de esperança também.

Enquanto isso, Francisco Mairlon segue tentando se adaptar a um mundo que não parou pra esperar por ele. Com a fé renovada - literalmente - e a certeza de que a verdade, mesmo tardia, sempre encontra seu caminho.