Macabéa Evaristo alerta: 'Intolerância destrói vidas e divide o país'
Macabéa Evaristo: "Intolerância mata"

Numa tarde abafada de Brasília, enquanto o ar-condicionado lutava contra o calor de 35°C, a ministra Macabéa Evaristo recebeu a reportagem com um sorriso cansado — daqueles que só quem enfrenta batalhas diárias conhece. "Intolerância mata", disparou, sem rodeios. "E não é metáfora."

Os números, de fato, assustam. Só em 2023, os casos de violência motivada por ódio aumentaram 27% no país. "Temos visto crimes bárbaros por diferenças políticas, de gênero, raça ou religião", lamentou a ministra, enquanto ajustava os óculos com gesto nervoso.

O preço da divisão

Macabéa — ou "Maca", como preferem os mais próximos — tem um jeito peculiar de falar: mistura termos técnicos com gírias cariocas. "O Brasil tá virando um campo minado emocional", comparou. "Pisar em falso pode explodir relações familiares, amizades de décadas."

Ela cita exemplos concretos: o pai que rompeu com o filho após discussão eleitoral, a empresária agredida por sua orientação sexual, o jovem negro assassinado por "barriga de cerveja" confundida com arma.

Políticas públicas ou revolução cultural?

"Não adianta só criar leis", analisa, enquanto bebe um café amargo. "Precisamos de educação emocional desde a infância." O Ministério planeja campanhas em escolas e redes sociais, mas esbarra em orçamento curto e resistência política.

  • Programa de mediação de conflitos em comunidades
  • Disque-denúncia especializado
  • Parceria com plataformas digitais

"As redes sociais são terreno fértil para o ódio", critica. "Algoritmos lucram com nossa divisão." Mas admite: "Também cometemos erros. Faltou diálogo com certos grupos."

Um país doente?

Quando questionada se vê o Brasil como uma "nação doente", Macabéa hesita. "Doente, não. Ferido, sim." Compara a situação a um osso quebrado mal tratado: "Se não imobilizar direito, cresce torto."

O tom muda quando fala de esperança: "Conheci projetos lindos pelo Brasil. Gente que constrói pontes onde outros só veem abismos." Seus olhos brilham ao descrever uma ONG no Recife que reúne evangélicos e mães de santo.

O recado final? "Precisamos urgentemente reaprender a discordar sem destruir." E, num raro momento de vulnerabilidade, confessa: "Tenho medo do que podemos nos tornar."