Incidente de racismo e xenofobia abala jogo da Série B
Um episódio de racismo e xenofobia marcou a partida entre Avaí e Remo pela Série B do Campeonato Brasileiro, disputada no último sábado (15) no Estádio da Ressacada, em Santa Catarina. Torcedores paraenses que acompanhavam o jogo foram alvo de insultos graves motivados por sua origem regional e cor da pele.
Relato das vítimas: humilhação e constrangimento
Abraão Jaques, paraense de 30 anos que viajou a Santa Catarina especialmente para o jogo, descreveu a situação como constrangedora e humilhante. "Quanto mais cantávamos as músicas da nossa torcida, mais eles diziam que nós 'não merecíamos estar ali'. As ofensas eram constantes, humilhantes e claramente motivadas pela nossa cor e origem", relatou o torcedor.
Maurício Ferreira, primo de Abraão que mora em Florianópolis há quatro anos, presenciou os ataques e revelou que esse tipo de discriminação não se restringe aos estádios. "Já ouvi perguntas como: 'O que você veio fazer aqui?' ou 'Por que veio de tão longe?'. Eu sempre respondo que vim pelo mesmo motivo dos antepassados de muitos daqui", explicou o empresário.
As ofensas gravadas e a reação
A torcedora do Avaí, identificada como Ana Costa, foi filmada proferindo uma série de xingamentos racistas e xenofóbicos. Um homem não identificado que estava próximo a ela também aparece no vídeo gritando frases preconceituosas, enquanto outro torcedor tenta alertá-los sobre a gravidade das falas.
Entre as ofensas registradas estão:
- "Vai de jegue?"
- "O que é que tem no Pará? Seu feio!"
- "Gastou o salário para vir, agora vai embora a pé"
- "Olha a tua cor"
- "Pobre aqui não fica"
Maurício Ferreira, que estava sentado próximo à divisão de torcidas, expressou seu choque com a situação: "Foi um sentimento de descrença e estarrecimento. Não estávamos acreditando que ela estava falando aquelas coisas, externalizando todos aqueles pensamentos em pleno século XXI".
Consequências e investigações
O Avaí emitiu nota repudiando os atos e informou que os torcedores identificados terão seus acessos aos eventos do clube suspensos por tempo indeterminado. O clube reforçou que "o racismo é um crime grave que não pode ser tolerado dentro ou fora dos estádios".
O Clube do Remo classificou o episódio como "repugnante" e uma "clara manifestação de racismo e intolerância", exigindo punição exemplar para os envolvidos.
As investigações já foram iniciadas pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e pela Polícia Civil através da Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância. A Defensoria Pública do Pará também oficializou um inquérito solicitando providências à Defensoria de Santa Catarina.
O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, citado nas falas da torcedora, pediu desculpas publicamente ao povo paraense e aos torcedores do Remo, reforçando que o caso deve ser "investigado e a criminosa, punida".
A defesa da torcedora
Em nota divulgada no dia 18 de novembro de 2025, a defesa de Ana Costa argumentou que o vídeo não retrata "quem Ana é, nem seu comportamento habitual". Alegaram que a torcedora foi alvo de agressões verbais momentos antes e que as gravações mostram apenas "um recorte isolado e incompleto da situação".
Ana Costa manifestou "profundo respeito por paraenses e catarinenses" e pediu desculpas publicamente a todos que se sentiram atingidos, afirmando que o episódio não reflete seus valores pessoais.
O caso segue sob investigação das autoridades competentes, que analisam a possibilidade de enquadramento nos crimes de racismo e xenofobia.