Onda de violência assusta moradores do bairro Mãe Luiza
A comunidade do bairro Mãe Luiza, localizado na Zona Leste de Natal, enfrentou mais um fim de semana marcado por trocas de tiros, consolidando um preocupante ciclo de violência que já conta com pelo menos quatro episódios somente neste mês de novembro.
De acordo com a Polícia Militar, os disparos registrados no domingo foram resultado de uma disputa territorial entre facções criminosas que tentam se estabelecer na região. A informação confirma declarações anteriores do comandante da PM do Rio Grande do Norte, coronel Alarico, que havia alertado sobre a tentativa de grupos criminosos de se instalarem no bairro.
Operação Mãe Luiza Segura e prisões
A Polícia Militar informou que o número de detidos em decorrência dos recentes incidentes no bairro subiu para 12 pessoas, aumentando em relação ao anterior registro de sete detenções. O mais recente suspeito preso é um jovem de 18 anos, capturado no domingo portando três coletes à prova de balas roubados, celulares, materiais supostamente destinados ao tráfico de drogas e uma máscara.
A operação 'Mãe Luiza Segura', em andamento desde 7 de novembro, já resultou na apreensão de quatro armas de fogo:
- Uma calibre ponto 40
- Duas pistolas 380
- Um revólver calibre 38
Além das armas, os policiais recuperaram um veículo clonado e apreenderam celulares, entorpecentes e material utilizado no tráfico de drogas. A PM também tem realizado barreiras policiais no bairro como parte da estratégia de segurança.
Histórico de violência no mês
Os registros de tiroteios em Mãe Luiza se repetiram ao longo de novembro:
5 de novembro: Dezenas de tiros foram ouvidos no bairro, com uma viatura da PM sendo atingida. A troca de tiros ocorreu após a polícia encontrar 15 suspeitos com roupas camufladas em uma área de mata.
13 de novembro: Moradores gravaram vídeos com sons de vários disparos de arma de fogo. A PM informou que o confronto não envolveu policiais. A Unidade Mista de Saúde fechou às 20h e aulas da Escola Estadual Dinarte Mariz foram canceladas no dia seguinte.
16 de novembro: Suspeitos no entorno da mata perceberam a presença policial e atiraram. O helicóptero da Secretaria de Segurança foi acionado. Foram apreendidas uma submetralhadora do tipo SMT, munições de grosso calibre e roupas camufladas.
Impacto na comunidade e educação
Os tiros do domingo voltaram a aterrorizar os moradores, que relataram o clima de medo que toma conta do bairro. Uma residente, que preferiu não se identificar, contou: "Eu estava dentro de casa e simplesmente não saí. Como eu estava com medo, eu desliguei tudo, televisão, tudo, e adormeci, não vi mais nada".
Outra moradora, que também manteve o anonimato, destacou a difícil situação das famílias locais: "É uma situação difícil e complicada. Por que infelizmente aqui não moram só pessoas que fazem parte de situações da qual muitos sabem. Aqui não só tem bandido, não só tem traficante. Aqui também existem pessoas de bem, aqui existem famílias que infelizmente se encontram no meio dessa situação difícil".
O medo tem afetado significativamente a frequência escolar. Embora as escolas não tenham fechado as portas na segunda-feira (24), a presença de alunos foi bastante reduzida. Em um dos CMEIs do bairro, que conta com 200 alunos matriculados entre 1 e 4 anos de idade, apenas 32 crianças compareceram às aulas.
Na Escola Estadual Dinarte Mariz, o número de presentes foi maior, mas ainda abaixo do esperado: pouco mais de 200 alunos dos 300 matriculados estiveram presentes. Marco Lira, vice-diretor da escola, comentou sobre os esforços para normalizar a situação: "Conversando com as famílias e mostrando que a vida tem que continuar, mesmo dentro dessa perspectiva da violência que está em Mãe Luiza, mas que a gente vai tocando a escola, que a escola não vai parar".
Lira expressou esperança de que a situação se normalize gradualmente: "Hoje [segunda-feira] abrimos, as pessoas vão conversando no bairro, isso acontece muito entre as famílias. Estão vendo a possibilidade de ter as aulas aqui funcionando normal. Acredito que a partir de terça, quarta-feira a gente volte a ter pelo menos 70%, 80% da nossa realidade frequentando as aulas aqui normalmente".
Apesar da violência recorrente, não houve registro de feridos nos últimos episódios de tiroteio, o que representa um alívio em meio ao cenário preocupante que continua a desafiar as autoridades e assustar a população do bairro Mãe Luiza.