Rodrigo Bacellar preso: ascensão e queda do presidente da Alerj que almejava ser governador
Presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, é preso pela PF

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi preso nesta quarta-feira pela Polícia Federal. A prisão, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ocorre sob a acusação de que o parlamentar vazou informações sigilosas para o ourives e ex-deputado TH Joias, investigado por atuar para a facção criminosa Comando Vermelho. A defesa de Bacellar classificou a prisão como "desproporcional" e negou qualquer vazamento.

Trajetória marcada por crises e investigações

A prisão representa o momento mais crítico da carreira política de Rodrigo Bacellar no estado do Rio de Janeiro, marcada por uma série de embates públicos, crises e investigações que se acumulam desde sua eleição como deputado estadual, em 2018. O parlamentar, que começou o ano com pretensões de se tornar governador, viu sua rápida ascensão ser interrompida de forma abrupta.

Segundo o ministro Alexandre de Moraes, existem "fortes indícios" de que Bacellar agiu para "obstruir investigações envolvendo facção criminosa". A Polícia Federal afirma que, na véspera da Operação Zargun, Bacellar alertou TH Joias sobre os mandados de busca e apreensão contra ele e sugeriu a destruição de provas. Diante do aviso, o ourives teria zerado o celular, adquirido um aparelho novo e organizado uma mudança com caminhão-baú.

Em vídeo enviado a Bacellar, TH Joias questionou se poderia deixar alguns objetos para trás. A resposta do presidente da Alerj foi direta: "Deixa isso, tá doido? Larga isso aí, seu doido". Essa comunicação foi um dos elementos citados por Moraes para decretar a prisão e o afastamento imediato de Bacellar da presidência da Assembleia.

Rede de investigações e conflitos políticos

Além do caso envolvendo TH Joias, Bacellar é alvo de uma série de outras investigações que pintam um quadro complexo de sua atuação:

Enriquecimento ilícito: O Ministério Público do Rio reabriu, em agosto de 2025, investigação sobre evolução patrimonial incompatível. Bacellar declarou R$ 85 mil ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018 e R$ 793 mil em 2022. As apurações também miram a suspeita de que ele seria sócio oculto do frigorífico JGPS Comércio de Carnes, em Campos dos Goytacazes, e sua proximidade com o advogado Jansens Calil Siqueira, dono da empresa.

Reportagens revelaram que Bacellar mora em duas coberturas de alto padrão em Botafogo, pertencentes a Jansens Calil, por um aluguel simbólico de R$ 2,2 mil — valor abaixo do mercado e do auxílio-moradia de deputados (R$ 3,3 mil). Os dois também são sócios em uma mansão em Teresópolis.

Crise com o governador Cláudio Castro: A relação, outrora uma forte aliança dentro do campo bolsonarista, implodiu após Bacellar exonerar o secretário de Transportes Washington Reis de forma interina, sem avisar Castro, que viajava. O governador chamou o ato de "intempestivo" e "desrespeitoso". A crise se aprofundou quando Bacellar protocolou um pacote de segurança pública na Alerj antes mesmo do governo estadual, em uma manobra vista como tentativa de criar contraste eleitoral.

O ápice do embate foi quando Bacellar, em sessão, reagiu a ataques dizendo: "Comigo não vai não! Não me confunde com o Cláudio Castro, não". A fala viralizou e simbolizou o rompimento definitivo.

Outros episódios controversos

A trajetória de Bacellar na Alerj foi pontuada por uma série de declarações e atitudes polêmicas:

  • Críticas ao comando da PM: Em setembro de 2025, chamou o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Marcelo Menezes, de "labubu do governador".
  • Declaração sobre "vodkinha": Ao defender endurecimento contra menores, usou o exemplo do próprio filho de 15 anos, a quem permitiria beber uma "vodkinha" com responsabilidade, gerando críticas de especialistas.
  • Votações para salvar colegas: Votou contra o afastamento da deputada Lucinha (PSD), investigada por milícia, e foi relator do projeto que revogou as prisões cautelares de cinco deputados presos na Operação Furna da Onça em 2019.
  • Ofensas a Eduardo Paes: Chamou o prefeito do Rio de "vagabundo" e "cínico" após críticas de Paes à Alerj.
  • Uso de helicóptero de empresa investigada: Foi alvo de inquérito por usar aeronave particular de grupo econômico investigado por crimes ambientais e lavagem de dinheiro.
  • Processo no TSE: É réu, junto com Cláudio Castro, em ações que pedem cassação de mandato por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022, envolvendo a fundação Ceperj. O Ministério Público Eleitoral já se manifestou favorável à cassação.

A prisão de Rodrigo Bacellar coloca um ponto de interrogação no futuro político de uma figura que, em pouco tempo, conseguiu ocupar um dos cargos mais importantes do estado, mas que via sua trajetória ser constantemente atravessada por denúncias e conflitos. O desfecho judicial dos múltiplos processos contra ele agora determinará o capítulo final dessa ascensão meteórica e conturbada.