O cenário político do Rio de Janeiro foi abalado por uma prisão de alto escalão que joga luz sobre as intrincadas e perigosas relações entre o poder público e a criminalidade organizada. Na última quarta-feira, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi preso preventivamente por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O cerco ao vazamento de informações sigilosas
A medida extrema decretada por Moraes tem como pano de fundo uma investigação da Polícia Federal (PF). Segundo as apurações, há fortes indícios de que Bacellar teria repassado dados confidenciais sobre uma operação policial realizada em setembro. O alvo da ação era Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, um dublê de deputado estadual com supostas ligações com o Comando Vermelho (CV).
O vazamento, conforme a PF, teria sido direcionado ao próprio TH Joias, causando sérios prejuízos a uma investigação considerada sensível. No despacho, o ministro Alexandre de Moraes foi taxativo ao afirmar que a prisão de Bacellar revela a "profundidade da infiltração da criminalidade organizada no poder público fluminense".
Uma cadeia de erros e a quebra de sigilo
Um ponto crucial levantado por analistas é a origem da informação que chegou às mãos de Bacellar. Como presidente do Poder Legislativo estadual, ele não está entre as autoridades que rotineiramente têm acesso a dados operacionais sigilosos da polícia. Isso levanta a suspeita de que o vazamento original partiu de dentro do próprio Poder Executivo.
A situação se agrava com a revelação de que o governador Cláudio Castro também teria sido avisado sobre a operação, um dia antes de sua execução. Este aviso prévio a agentes políticos é considerado um erro grave no combate ao crime organizado, pois quebra o sigilo necessário para o sucesso de ações repressivas, especialmente quando os alvos têm conexões políticas.
O verbo que não se conjuga com a atividade policial
Especialistas em segurança pública são unânimes em apontar que informações sobre datas e alvos de operações devem ser restritas ao círculo estrito de profissionais diretamente envolvidos: policiais, membros do Ministério Público e juízes responsáveis pelo caso. A quebra desse protocolo, seja por vazamento criminoso ou por "aviso de cortesia", abre brechas que podem inviabilizar investigações e colocar vidas em risco.
O caso Bacellar serve como um alerta contundente. Ele ocorre em um momento em que o político demonstrava pretensões de concorrer ao governo do estado, mostrando como a ambição pelo poder pode se cruzar com redes criminosas. A lição que fica é clara: não há como combater eficazmente o crime organizado sem isolar completamente as ações policiais da influência política e sem uma rigorosa compartimentação de informações.
O episódio reacende o debate sobre a necessidade de uma renovação ética na classe política e de protocolos blindados nas forças de segurança, vedando qualquer escotilha por onde possam vazar dados que alimentam a máquina da macrocriminalidade.