A Polícia Federal (PF) realizou nesta quarta-feira, 3 de dezembro de 2025, a prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Rodrigo Bacellar (União-RJ). A ação, parte da Operação Unha e Carne, foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e está tirando o sono do governador fluminense, Cláudio Castro (PL-RJ).
Detalhes da prisão e suspeitas
Rodrigo Bacellar foi chamado para uma conversa na sede da PF, na zona portuária do Rio, por volta das 9h da manhã. Ao contrário do deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, que foi alertado com antecedência sobre um risco de prisão em setembro, Bacellar foi surpreendido com o mandado de prisão.
Na véspera, TH Joias havia apagado o conteúdo de seu celular e esvaziado sua residência após ser alertado. No entanto, ele usou outro aparelho para repassar informações a Bacellar sobre o que havia feito. Essa comunicação levou a PF a suspeitar de vazamento de informações sigilosas. Além dessa suspeita, Bacellar pode responder por cumplicidade.
Durante a abordagem, os policiais encontraram no carro do presidente da Alerj maços de notas no valor de R$ 90 mil. O mandado de prisão foi expedido por acusação de vazamento de notícia, o mesmo tipo de ordem que recaiu sobre TH Joias em 3 de setembro.
O histórico que assombra o Palácio Guanabara
A prisão de Bacellar não é um fato isolado na história política do Rio de Janeiro. Ele se tornou o quinto presidente da Alerj preso pela PF. A lista começou com José Nader, em 1991, e seguiu com Sérgio Cabral, Jorge Picciani e Paulo Mello. O único que escapou desse destino, até agora, foi o deputado André Ceciliano, atual secretário de Assuntos Parlamentares do governo Lula.
O governador Cláudio Castro tem motivos de sobra para se preocupar. O destino de seus antecessores no Palácio Guanabara foi a prisão: Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão foram todos detidos. Castro, que assumiu após o impeachment de Wilson Witzel e foi reeleito em 2022, mantém um silêncio absoluto sobre o caso Bacellar.
Esse silêncio é estratégico. O governador, que já enfrenta dificuldades de fala, teme que qualquer declaração possa gerar um "troca de chumbo" nos interrogatórios da PF, envolvendo-o nas investigações. Anthony Garotinho, hoje livre, já fez acusações pesadas contra Bacellar e insinuou que o governador pode sofrer consequências.
Crise política e sucessão em risco
A prisão abala um acordo político crucial. Bacellar foi um dos principais apoiadores da reeleição de Cláudio Castro e havia fechado um acordo para receber o apoio do governador na sucessão estadual de 2026. No entanto, ao assumir interinamente a presidência da Alerj (o vice-governador, Thiago Pampolha, tornou-se conselheiro do TCE), Bacellar criou atritos.
Uma de suas primeiras medidas foi demitir o secretário de Transportes, Washington Reis (MDB), ex-prefeito de Duque de Caxias e aliado da família Bolsonaro. Reis era considerado um virtual candidato à sucessão de Castro, e a demissão foi vista como uma manobra de Bacellar para eliminar um concorrente. A jogada, porém, lhe custou caro, gerando conflito tanto com Cláudio Castro quanto com o clã Bolsonaro.
Com a possibilidade de a linha de sucessão do Executivo fluminense ser comprometida, especula-se que o governo do estado possa passar para as mãos do presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), desembargador Ricardo Couto de Castro Ribeiro Couto, em um cenário extremo.
A reação do governo federal à proposta de limitar ações da PF nos estados, que permitiu a operação, e o desfecho da investigação sobre vazamento e cumplicidade devem definir os próximos capítulos dessa crise que abala a política do Rio de Janeiro.