As câmeras de segurança da casa do ourives e ex-deputado TH Joias se tornaram uma peça fundamental para a Polícia Federal (PF) comprovar que ele foi alertado sobre sua prisão iminente. As mesmas lentes que registraram a retirada apressada de móveis e objetos na véspera da Operação Zargun também capturaram o momento em que os policiais chegaram para cumprir o mandado, encontrando a mansão vazia.
As imagens que incriminam
De acordo com as investigações, a sequência de eventos ficou registrada no sistema de vigilância do condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Na noite de 2 de setembro, às 21h57, um caminhão-baú estaciona em frente à residência. Um homem aguardava na porta – não é possível identificar se era o próprio TH Joias nas imagens. Dois indivíduos descem do veículo e entram na mansão, saindo minutos depois carregando diversos objetos.
O processo de carga se estende até as 22h24, quando o caminhão, agora cheio, deixa o local. Na manhã seguinte, 3 de setembro, os agentes da PF chegam ao endereço às 5h50 para prender o então deputado, mas ele já não estava mais lá. Os policiais encontraram a casa toda revirada. TH Joias só foi localizado e preso em outro local horas mais tarde.
O papel do presidente da Alerj
A Polícia Federal afirma que o aviso partiu de Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e filiado ao União Brasil. Bacellar foi preso na quarta-feira, 3 de setembro, suspeito de vazar informações sigilosas da operação.
Segundo a PF, na tarde anterior à ação policial, Bacellar teria telefonado para TH Joias não apenas alertando-o, mas também orientando-o a destruir provas. Imediatamente após o contato, o ourives iniciou uma verdadeira operação de limpeza em sua casa, contratando o serviço de mudança visto nas filmagens.
Além disso, ele apagou todo o conteúdo de seu celular pessoal e passou a usar um aparelho novo. Foi neste dispositivo, que não teve as mensagens apagadas, que a PF encontrou a troca de mensagens comprometedoras.
Diálogos reveladores sobre picanha e operação
As conversas obtidas pela investigação mostram o nível de detalhe do diálogo entre os dois. Preocupado com bens materiais, TH Joias enviou uma filmagem a Bacellar perguntando se poderia deixar para trás um freezer carregado de picanha. A resposta do presidente da Alerj foi direta: “Deixa isso, tá doido? Larga isso aí, seu doido”.
O ex-deputado ainda insistiu, demonstrando apreensão com as carnes: “Ô presida! Não tem como levar não, irmão. Pô, como é que leva?! Tem como levar não, irmão. Esses filhos da puta vão roubar as carnes, hein”.
No próprio dia da operação, a comunicação continuou. TH Joias chegou a enviar para Bacellar imagens em tempo real da equipe policial dentro de sua casa, capturadas pelo sistema de segurança. Ele também informou ao presidente da Alerj sobre a troca do número de telefone e compartilhou o contato de sua advogada.
A investigação agora se concentra em descobrir quem repassou as informações sigilosas a Rodrigo Bacellar, permitindo o vazamento que deu chance para que TH Joias tentasse escapar da prisão e eliminasse evidências. As imagens da câmera de segurança, combinadas com as mensagens do novo celular, formam o núcleo das provas que sustentam as acusações contra ambos.