Dois homens investigados por integrarem um grupo acusado de lavar dinheiro para a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) se entregaram espontaneamente à Polícia Civil de São Paulo nesta sexta-feira, 5 de abril. A ação é um desdobramento da megaoperação deflagrada na última semana.
Os suspeitos e o papel no esquema milionário
Os investigados são Alessandro Rogério Momi Braga, conhecido como "Morango" ou "Alemão", e Manoel Sérgio Sanches, o "Mané". Segundo o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), eles atuavam como intermediários fundamentais em uma complexa rede de ocultação de recursos.
O dinheiro, originado de crimes como tráfico de drogas, jogos de azar, estelionato e extorsão, era camuflado por meio de dezenas de empresas de fachada. O esquema, descoberto na Operação Falso Mercúrio, movimentava milhões de reais diariamente.
O modus operandi do Grupo Key Car
Alessandro Braga é o proprietário do Grupo Key Car
O método funcionava da seguinte forma: o grupo recebia dinheiro em espécie, muitas vezes vindo da operação ilegal de caça-níqueis. Após coletar os valores, o núcleo coordenado por Braga os devolvia, já "lavados", para contas de empresas laranjas ou dos próprios coletores. Por esse serviço, cobravam uma comissão.
Mensagens apreendidas em celulares mostram Braga orientando pessoalmente sua equipe a fracionar pagamentos, uma técnica para burlar os sistemas de controle financeiro e dificultar o rastreamento. Em uma das conversas, ele oferece o CNPJ de uma de suas empresas para registrar um veículo usado por alguém ligado ao esquema, um indício de que também oferecia serviços de ocultação de patrimônio.
Luxo, pôquer e as revelações das escutas
A polícia afirma que um dos serviços oferecidos era o uso de carros de luxo das empresas dos suspeitos para criminosos interessados em esconder bens. Na operação da quinta-feira, 4 de abril, foram apreendidos 257 automóveis, avaliados em aproximadamente R$ 42 milhões.
Manoel Sanches, tratado como sócio oculto, aparece em conversas interceptadas discutindo valores com Braga e outros suspeitos. Em um diálogo revelador, Sanches tenta viabilizar um pagamento de R$ 400 mil a um beneficiário final do esquema, usando a conta de uma casa de pôquer como destino.
O cliente demonstrou receio, mas foi convencido após Sanches enviar um áudio de Braga. Nele, Braga argumentava que usar a conta da casa de apostas era vantajoso: em caso de questionamento, ele poderia alegar ser viciado em jogos para justificar a movimentação atípica de dinheiro.
O alcance financeiro e a estrutura hierárquica
A investigação identificou que, em pouco mais de dois anos, Alessandro Braga movimentou ao menos R$ 17 milhões, valor que se acredita ser apenas uma parte do total ligado ao esquema. Ele é tratado pelos investigadores como uma liderança, com todos os gerentes e sócios se reportando diretamente a ele.
Os dois suspeitos que se entregaram permanecem à disposição da Justiça. A defesa de Braga e Sanches foi procurada pela reportagem no sábado, 6 de abril, mas não se manifestou até o momento da publicação.