
Numa ação que parece saída de um roteiro de filme policial, a Polícia Federal (PF) colocou um ponto final em uma rede criminosa que agia como uma verdadeira "máquina de moer sonhos". Mulheres jovens, muitas delas em situação vulnerável, eram recrutadas com falsas promessas de trabalho na Europa — mas o destino real era bem diferente.
"Era um esquema quase industrial", comentou um delegado que preferiu não se identificar. "Eles tinham até um catálogo digital com fotos das vítimas, como se fossem mercadorias."
Como funcionava o esquema
O modus operandi — ou "o jeitinho" como um dos presos chamou durante o interrogatório — seguia um roteiro assustadoramente eficiente:
- Recrutamento em bares e redes sociais (principalmente Instagram)
- Promessas de emprego como modelos ou garçonetes
- Confisco de documentos assim que chegavam ao exterior
- Ameaças contra familiares no Brasil
E o pior? Algumas vítimas sequer sabiam que estavam sendo traficadas até pisarem em solo estrangeiro. "Pensava que ia trabalhar num restaurante chique em Portugal", contou uma das resgatadas, cuja identidade foi preservada.
Os números da operação
A PF não brincou em serviço:
- 27 mandados de prisão expedidos
- 15 prisões efetivadas só na primeira fase
- Mais de R$ 3 milhões em bens bloqueados
- Operação simultânea em 5 estados brasileiros
E tem mais: os investigadores descobriram que algumas vítimas eram "repostas" como mercadoria em um estoque — quando uma deixava o "serviço", outra era imediatamente enviada para substituí-la.
O lado humano da tragédia
Por trás dos números frios, histórias que cortam o coração. Uma das vítimas, mãe de dois filhos, foi coagida a enviar vídeos caseiros como "prova" de que estava bem — enquanto sofria abusos diários num apartamento em Madrid.
"Eles transformam vidas em números", desabafou uma psicóloga que atende as resgatadas. "A reconstrução leva anos, quando é possível."
Agora, a grande pergunta que fica: quantas outras redes como essa ainda operam nas sombras? A PF garante que esta não será a última operação do tipo — mas admite que o combate é como "enxugar gelo" sem maior conscientização social.