A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira (4) a operação Cartucho de Midas, que resultou no afastamento de dois servidores da Polícia Civil do Amapá e na apreensão de mais de R$ 1 milhão em espécie e cerca de € 25 mil. As ações ocorreram nas cidades de Macapá e Oiapoque, esta última localizada na fronteira com a Guiana Francesa.
Mandados cumpridos e valores apreendidos
A força-tarefa cumpriu um total de 13 mandados de busca e apreensão, sendo alguns também no Rio de Janeiro. Durante as diligências, os agentes encontraram e confiscaram a grande quantia em dinheiro. A investigação aponta para um esquema de contrabando de ouro e lavagem de dinheiro que teria movimentado mais de R$ 4,5 milhões.
Segundo as apurações, empresas de fachada, incluindo joalherias em diferentes estados e um posto de combustíveis em Oiapoque, eram utilizadas para ocultar e transferir valores ilegais. O dinheiro era supostamente repassado a um agente público, configurando indícios de lavagem de capitais.
Servidores afastados e medidas cautelares
Os dois policiais civis afastados são o delegado Charles Correa, de 52 anos, e o policial Daniel Lima das Neves, de 54 anos. Ambos atuam na região de Oiapoque. A Justiça determinou, como medidas cautelares para os dois investigados:
- Afastamento imediato das funções públicas;
- Proibição de manter contato entre si;
- Restrição de entrada em delegacias e unidades da Segurança Pública.
A Corregedoria-Geral da Polícia Civil do Amapá informou que acompanha o caso e irá instaurar um inquérito administrativo para apurar a conduta dos servidores. Durante as buscas, uma pessoa foi presa em flagrante por posse de arma de uso restrito.
Perfil dos investigados e defesa
Charles Correa é uma figura conhecida em Oiapoque, com mais de 15 anos de atuação no combate ao crime organizado na fronteira. Ele também tem trajetória política, tendo sido candidato a prefeito em 2024 pelo PSB e a deputado federal em 2022 pelo PL. Daniel Lima das Neves também disputou um cargo eletivo, concorrendo a vereador em 2024 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).
A defesa do delegado Charles Correa emitiu uma nota na qual nega veementemente qualquer participação do cliente em atividades ilícitas. O texto destaca sua longa carreira no enfrentamento ao crime e afirma que o afastamento é uma medida administrativa padrão, que não configura juízo de culpa. A defesa expressa confiança em que a inocência será comprovada. O g1 tentou contato com a defesa do policial Daniel Lima das Neves, mas não obteve retorno até a última atualização da matéria.
Crimes investigados e possíveis penas
Os investigados na operação Cartucho de Midas podem responder por uma série de crimes graves perante a Justiça. As acusações em potencial incluem:
- Corrupção passiva
- Lavagem de dinheiro
- Participação em organização criminosa
- Peculato (desvio de dinheiro público)
As penas somadas para esses crimes podem ultrapassar 60 anos de prisão. A operação contou com o apoio da Corregedoria da Polícia Civil do estado e reforça o foco das autoridades na região de Oiapoque, constantemente alvo de operações contra garimpos ilegais e contrabando na fronteira.