Operação no Complexo da Penha mobiliza país e divide opiniões
A maior operação policial do ano no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, realizada em 28 de outubro de 2025, gerou números impressionantes e acirrou o debate sobre segurança pública no Brasil. Os dados oficiais revelam que a ação resultou em 121 mortos e apreensão de 120 armas, sendo 93 fuzis, além de infligir R$ 12,8 milhões em prejuízos financeiros à facção criminosa.
As redes sociais rapidamente se transformaram em campo de batalha ideológica, dividindo a população entre apoiadores e críticos da operação. Pesquisas recentes indicam que a maioria dos brasileiros apoia a ação, mas quase metade acredita que o governo atual permitiu a deterioração dos índices de segurança pública.
Três décadas de Estado capturado pelo crime
O fenômeno de captura do Estado por organizações criminosas não é recente. Segundo especialistas, o problema começou na década de 1990, acumulando aproximadamente 30 anos de ações desarticuladas por parte do poder público. A ausência de inteligência no manejo de dados e, em muitos casos, a omissão deliberada de agentes políticos preocupados com reeleição contribuíram para o atual cenário.
O chamado "narcoestado" brasileiro apresenta complexidade estrutural e financeira que desafia governos há décadas. As facções criminosas diversificaram seus investimentos ilícitos, destinando recursos para financiar campanhas políticas, adquirir postos de gasolina, obras de arte, redes de motéis, criptomoedas e até clubes de futebol.
Combate financeiro como estratégia principal
O combate às organizações criminosas, atualmente em discussão no Congresso para possível equiparação ao terrorismo, só será efetivo se atacar diretamente a corrupção e o clientelismo estatal. A infiltração de agentes do crime no aparelho estatal foi fundamental para proteger comparsas e elaborar leis que beneficiam suas operações.
A grande preocupação dessas organizações é a questão financeira, pois o acesso a valores ilícitos é essencial para expandir operações, adquirir armamentos e recrutar pessoas. Uma legislação focada em asfixiar financeiramente as facções, confiscando integralmente o patrimônio direto ou indireto de seus membros, surge como mecanismo mais promissor para impedir sua expansão.
Embora parte da sociedade não compreenda a possível equiparação ao terrorismo, comunidades dominadas pelo tráfico vivem sob terror generalizado, com violência constante e grave ameaça à integridade física. Moradores precisam da autorização do "dono do bairro" para acessar serviços básicos ou solicitar transporte por aplicativo, além de destinar porcentagem do faturamento de seus negócios ao "chefe" local.
As organizações criminosas, assim como grupos terroristas, utilizam moradores como escudos humanos contra a incursão policial, levantando questionamentos sobre a natureza terrorista de suas ações.
Legislação existe, mas falta inteligência
O Brasil dispõe de bons instrumentos legais, especialmente após a promulgação do Pacote Anticrime, que regulamentou a colaboração premiada, o confisco alargado, a "captação ambiental" como técnica de investigação e a transferência de líderes do crime para presídios federais.
O problema brasileiro não é a ausência de legislação, mas a falta de investimento em inteligência e organização. Anos de corrupção e desvio de recursos que poderiam ter sido destinados ao aprimoramento da segurança pública permitiram que líderes continuassem comandando facções de dentro dos presídios.
O autor Hamilton Calazans Câmara Neto, mestre em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa e especialista em Direito Público pela Faculdade Escola Paulista de Direito, finaliza com um apelo por mais políticos dispostos a arriscar suas vidas no combate ao crime organizado.