Uma megaoperação foi deflagrada nesta terça-feira, 2 de dezembro de 2025, em Minas Gerais, para desarticular um sofisticado esquema de fraude tributária que teria causado um prejuízo de 215 milhões de reais aos cofres públicos. A ação, batizada de Operação Ambiente 186, tem como um de seus principais alvos o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, conhecido nacionalmente por seu papel no escândalo do mensalão.
Núcleo executivo e superioridade hierárquica
Coordenada pelo Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos de Minas Gerais (Cira-MG), a investigação aponta Valério como integrante do "núcleo executivo" de uma organização criminosa, atribuindo-lhe "superioridade hierárquica em relação aos demais investigados". Além da sonegação fiscal, o grupo é investigado pelos crimes de organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Durante as buscas, os agentes apreenderam celulares, documentos, aparelhos eletrônicos e até veículos de luxo que, segundo as investigações, eram utilizados para lavar o dinheiro desviado.
O modus operandi da fraude: "barriga de aluguel"
A investigação, autorizada pelo juiz Rodrigo Heleno Chaves, da 4ª Vara de Tóxicos, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores de Belo Horizonte, detalha uma fraude apelidada de "barriga de aluguel". O esquema simulava operações interestaduais com empresas "noteiras" – muitas delas fictícias ou de fachada – localizadas em estados sem convênio com Minas Gerais, como Goiás e Espírito Santo.
A manobra aproveitava alíquotas reduzidas de ICMS (de 7%) nesses estados para suprimir o recolhimento do imposto devido em Minas Gerais, onde a alíquota seria maior. O magistrado autorizou a indisponibilidade de bens no valor de 476 milhões de reais, superando o valor da suposta sonegação para cobrir possíveis multas e correções.
Quem são os investigados e suas supostas funções
A operação cumpriu mandados contra dezenove pessoas. Abaixo, as acusações apresentadas pelos investigadores contra alguns dos principais nomes:
Leonardo Guimarães Resende: Apontado como coordenador das fraudes e administrador da Autêntica Comércio de Produtos LTDA.
Marcos Valério Fernandes de Souza: Integrante do núcleo executivo com suposta superioridade hierárquica.
Pedro Souza de Freitas e Rodrigo José de Freitas: Coordenadores das fraudes, ligados à Atakamix Atacadista e à Comercial Milho Brasil.
Wilson Tacchi Júnior: Administrador da empresa WT, acusado de gerenciar contas de empresas de fachada e ser sócio oculto da Minas Confiança Serviços para lavar capitais.
Marco Aurélio Caetano Surette e Afrânio Morcatti Júnior: Estariam envolvidos na lavagem de dinheiro através da Triunfo Negociações Veiculares, com compra e venda de veículos de luxo com prejuízos simulados.
Gustavo Coelho Leite (Grupo Coelho Diniz): Diretor da HAF Distribuidor e principal operacional da fraude dentro do grupo. Áudios citados pela investigação comprovariam sua intenção de usar a manobra via Goiás/Espírito Santo para reduzir o ICMS.
André Luiz Coelho Leite e Fábio Coelho Diniz: Sócios administradores do Grupo Coelho Diniz, responsáveis pelos pagamentos às empresas "noteiras".
Outros investigados incluem funcionários operacionais, sócios e administradores de empresas como Big Works Comércio, Master Comércio Atacadista e L&M Nova Distribuidor, todos supostamente integrados ao esquema para dar aparência de legalidade às transações fraudulentas.
Consequências e próximos passos
A Operação Ambiente 186 representa um dos maiores golpes recentes contra a sonegação fiscal organizada em Minas Gerais. A ação evidencia a sofisticação de esquemas que utilizam empresas interestaduais de fachada para burlar o fisco. As investigações continuam, e os investigados responderão judicialmente pelos crimes apurados. O caso também joga luz novamente sobre a figura de Marcos Valério, décadas após seu envolvimento no mensalão, agora em uma nova frente de atuação no crime financeiro.