O caso envolvendo a influenciadora digital Deolane Bezerra e a casa de apostas Esportes da Sorte ganhou novos contornos com a transferência da investigação para a Justiça Federal. A decisão foi tomada pelo juiz Cesar Arthur Cavalcanti de Carvalho, da 13ª Vara Federal de Pernambuco, que assumiu o comando da Operação Integration.
Mudança na competência judicial
O magistrado federal acolheu o entendimento da juíza Andréa Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal da Capital, que em julho havia declarado a incompetência da Justiça Estadual para julgar o caso. A transferência ocorreu após análise de 37 procedimentos enviados pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Segundo o juiz Cesar de Carvalho, as evidências coletadas durante as investigações demonstram claramente que as atividades das empresas e pessoas investigadas ultrapassam as fronteiras estaduais. Há fortes indícios de crimes de competência federal, incluindo evasão de divisas, crimes contra a ordem tributária, lavagem de dinheiro e constituição de organização criminosa.
Desmembramento do processo
Apesar da transferência integral do processo para a Justiça Federal, o juiz determinou o desmembramento de uma parte específica da investigação. A competência para julgar a contravenção penal de exploração do jogo do bicho permanece com a Justiça estadual, sendo essa parte do caso enviada de volta ao TJPE.
Com a mudança na competência, a Polícia Federal recebeu autorização para continuar as diligências investigativas. Estão previstas novas quebras de sigilo e análises de movimentações financeiras internacionais envolvendo 21 investigados, entre eles Deolane Bezerra e Darwin Henrique da Silva Filho, proprietário da Esportes da Sorte.
Histórico da operação
A Operação Integration foi deflagrada em 4 de setembro de 2024, com o cumprimento de mandados de prisão contra Deolane Bezerra e sua mãe, Solange Alves Bezerra, além de buscas e apreensões em seis estados brasileiros. No mesmo dia, um avião que pertenceu ao cantor Gusttavo Lima foi apreendido no aeroporto de Jundiaí, no interior de São Paulo.
O caso teve várias reviravoltas ao longo de 2024 e 2025. Em 15 de setembro de 2024, Gusttavo Lima foi indiciado por lavagem de dinheiro e organização criminosa, tendo sua prisão preventiva decretada em 23 do mesmo mês, junto com o empresário Bóris Maciel Padilha. No entanto, em janeiro de 2025, tanto o cantor quanto a empresa Vai de Bet foram excluídos do processo.
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) tentou por três vezes arquivar parte da investigação, argumentando que as apostas esportivas e jogos online foram legalizados, não havendo portanto crime antecedente para justificar a acusação de lavagem de dinheiro. Após desentendimentos com a juíza Andréa Calado, o órgão acabou concordando que o caso extrapolava a competência estadual.
Documentos coletados durante as investigações revelaram que as empresas investigadas, especialmente Esportes da Sorte, Pix365 e HSF Gaming N.V., mantinham estrutura societária internacional com sede em países de regime tributário favorecido, como Curaçao e Luxemburgo, com significativa movimentação de capitais no exterior.