Um líder faccional foi detido em Rodrigues Alves, no vale do Rio Juruá, após tentar assassinar um integrante de sua própria organização criminosa. A prisão ocorre em um contexto de expansão do crime organizado no estado do Acre, onde todas as 22 cidades registram atuação de pelo menos uma facção.
Presença total das facções no Acre
O estudo "Cartografias da violência na Amazônia", realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Mãe Crioula, confirmou a presença de organizações criminosas em 100% dos municípios acreanos. A pesquisa, publicada na quarta-feira (19), abrange todos os estados da Amazônia Legal.
Enquanto na edição de 2024 eram 18 municípios com atuação majoritária de uma organização, o cenário atual mostra um aumento de cidades com mais de uma facção atuando simultaneamente. A Amazônia Legal inclui nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão, totalizando 772 municípios.
Disputa territorial entre facções
O Comando Vermelho (CV) mantém hegemonia em 17 municípios do Acre, enquanto outras organizações disputam território em cinco cidades específicas. Os municípios em conflito são: Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia, Rio Branco e Sena Madureira.
Santa Rosa do Purus e Acrelândia, que anteriormente não registravam presença faccional, agora também estão sob influência desses grupos. A pesquisa alerta que o cenário pode continuar mudando devido à dinâmica dos grupos criminosos na região.
Alianças e rotas do narcotráfico
O documento destaca que o Acre se tornou estratégico para as rotas do narcotráfico, principalmente através do rio Juruá, por onde entra cocaína peruana e skunk colombiano na Amazônia. O Comando Vermelho controla essa rota, seguindo em direção ao Amazonas até Manaus.
Em Rio Branco, as três principais facções - CV, Bonde dos 13 (B13) e Primeiro Comando da Capital (PCC) - disputam território, com alguns bairros em constante conflito. O Bonde dos 13, facção originária do estado, aliou-se à facção carioca TCP para resistir ao CV e ao PCC, segundo informações da Polícia Civil do Acre.
Antigas organizações criminosas locais, como a Irmandade Força Ativa Responsabilidade Acreana (IFARA), foram incorporadas por outras facções, incluindo B13 e PCC, que atuam em aliança no estado.
A Câmara dos Deputados definiu para dezembro a votação da PEC da Segurança, que pretende endurecer o combate ao crime organizado. Paralelamente, operações policiais como a Vanilla Sky resultaram na prisão de 16 pessoas por envolvimento com facções no Acre.