Ex-delegado executado tinha denúncia de fraudes em licitações no computador
Ex-delegado executado tinha denúncia de fraudes no PC

O ex-delegado Ruy Ferraz Fontes foi executado a tiros no dia 15 de setembro em Praia Grande, litoral de São Paulo, enquanto ocupava o cargo de secretário municipal de Administração. O crime ocorreu quando ele saía do trabalho e tinha como pano de fundo uma investigação sobre possíveis irregularidades em licitações da prefeitura.

Denúncia inacabada encontrada no computador

De acordo com a Polícia Civil, o notebook de Ruy continha o rascunho de uma denúncia ao Ministério Público sobre suspeitas de fraudes em procedimentos licitatórios municipais. O documento estava em fase de produção e revelava que o ex-delegado acreditava existir indícios de irregularidades envolvendo funcionários da prefeitura e empresários.

Diante dessa descoberta, o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) solicitou medidas cautelares contra alguns servidores públicos para verificar se a atuação de Ruy na prefeitura poderia ter relação direta com seu assassinato.

Duas investigações em andamento

O caso gerou a abertura de dois inquéritos policiais distintos. O primeiro, concluído dois meses após o crime, resultou no indiciamento de 12 suspeitos, sendo que cinco deles foram posteriormente soltos.

Já o segundo inquérito, instaurado pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos, foca especificamente na apuração de fraudes em licitações e lavagem de dinheiro. Em outubro, cinco servidores municipais foram alvo de mandados de busca e apreensão.

PCC apontado como autor intelectual

O Ministério Público de São Paulo ofereceu denúncia contra oito pessoas envolvidas no assassinato, descartando a hipótese de que a morte estivesse relacionada à gestão de Ruy como secretário municipal. Segundo o MP-SP, o crime foi uma vingança do Primeiro Comando da Capital (PCC) pela atuação do ex-delegado contra o crime organizado ao longo de sua carreira.

O planejamento da execução teria começado em março de 2025, com furto de veículos, compra de armamentos e definição de imóveis para apoio logístico. Entre os oito denunciados estão:

  • Felipe Avelino da Silva (Mascherano) - responsável por furtar o Jeep Renegade usado na ação
  • Flávio Henrique Ferreira de Souza - ligado ao veículo furtado, atualmente foragido
  • Luiz Antonio Rodrigues de Miranda - participou do planejamento, também foragido
  • Dahesly Oliveira Pires - transportou e ocultou armas após o crime
  • Willian Silva Marques - cedeu casa em Praia Grande como esconderijo
  • Paulo Henrique Caetano de Sales - participou da logística, preso
  • Cristiano Alves da Silva - atuou na execução e logística, preso
  • Marcos Augusto Rodrigues Cardoso (Fiel/Penélope) - apontado como recrutador e organizador do grupo, integrante do PCC

Trajetória de combate ao crime organizado

Ruy Ferraz Fontes tinha uma carreira de mais de 40 anos na Polícia Civil e foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022. Ele foi pioneiro nas investigações sobre o PCC e teve papel central no combate ao crime organizado no estado.

Durante sua gestão, Ruy liderou a transferência de chefes da facção de presídios paulistas para unidades federais em outros estados, medida considerada estratégica para enfraquecer o poder do grupo dentro das cadeias.

A Prefeitura de Praia Grande, por sua vez, não se manifestou sobre o caso até a publicação das primeiras reportagens. As investigações continuam em andamento, com a polícia acompanhando todos os desdobramentos relacionados tanto ao assassinato quanto às suspeitas de fraudes em licitações municipais.